quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Entendendo o Marxismo - O Exemplo de Valor

Diz Marx, em sua obra:

"Assim como uma Libra de Ferro e uma Libra de Ouro representam a mesma massa, apesar da diferença de suas propriedades físicas e químicas, assim os Valores de Uso de duas Mercadorias, CONTENDO IGUAL TEMPO DE TRABALHO, representam o mesmo Valor de Troca".

E segue, em sua lógica:

"O Valor de Troca aparece, portanto, como uma FORMA NATURAL SOCIALMENTE DETERMINADA DOS VALORES DE USO, forma determinada esta que lhes é devolvida enquanto objetos que são, e graças à qual, no processo de TROCA, eles se substituem um ao outro em relações quantitativas determinadas, e formam equivalentes, do mesmo modo que os corpos químicos simples se combinam em certas proporções, formando equivalentes químicos".

Karl Marx, com este último argumento, quer inserir as Trocas de Mercadorias no ritual de nossos rituais Sociais. A Troca, naqueles tempos de Marx, ainda prevalecia, ao invés da compra através da moeda. Então ele interpretava e inseria as trocas de mercadorias no contexto social, como rito social.

Hoje, já substituímos esta Troca por algo denominado como Compra e Venda, e segregamos estas permutas para o campo da Economia. Lembre-se, o trabalho era quase toda a vida das pessoas, pois elas laboravam por 18 horas diárias, a ponto de caírem no sono, durante o trabalho. Não existe mais Troca, e não existe caráter social no fenômeno da Compra e nem no da Venda.

Também não faz mais parte do fenômeno de classes o grande acesso às mercadorias, que os burgueses tiunham, em detrimento da plebe, pois hoje O CRÉDITO AO CONSUMIDOR EM GERAL ESTÁ BEM FACILITADO. Não existe mais luta de classes para o direito ao consumo.

Relação Social de Produção

E Marx continua:

"Somente o hábito da vida cotidiana faz considerar como banal e como evidente o fato de uma Relação Social de Produção tomar a forma de um objeto, dando às relações entre as pessoas, no seu trabalho, o aspecto de uma relação que se estabelece entre as coisas e as pessoas".

O trabalho intenso nas fábricas, naqueles tempos de Revoiução Industrial, com os operários passando longas horas laborando, podia enganar a mente dos desavisados e dos trabalhadores, a ponto de convencê-los de que a fábrica era quase como a CASA daquelas pessoas, ou um lugar de CULTO, ou seja, Culto ao Trabalho. A busca do sustento era o único ritual daquela massa de Trabalhadores. Os produtos continham aritmeticamente um Tempo dos Operários, e conceitualmente um Conteúdo Social, como queria Marx.

Mas isto é um engano. Conteúdo Social não pode ser vendido. Se assim fosse, a Mercadoria também pertenceria ao "agrupamento social" dos trabalhadores, e não poderia ser vendida sem autorização deles. Mas isto não procede. A Mercadoria é do proprietário da fábrica, que dá um pagamento aos operários, pela VENDA da mão de obra destes.

Não existe romantismo e nem fenômeno social na produção. O Trabalho é, antes de tudo, um Direito Social de inserção na Sociedade, e existem trabalhos que não produzem Mercadorias palpáveis.

A Libra de Ferro e a Libra de Ouro

O exemplo de KM se mostra um pouco infeliz, ao comparar apenas o Tempo de Produção entre uma mercadoria feita de ouro e outra confeccionada de ferro. As pessoas dão especial valor ao brilho das mercadorias confeccionadas com o metal Ouro.

O Ferro possui outra associação na mente humana, que lhe atribui a dureza necessária para a construção de ferramentas e a ductibilidade apropriada para a moldagem de peças complexas como engrenagens, encaixes, conexões, articulações, etc.

Um possui Valor de Uso decorativo, ostensivo, enquanto o outro tem Valor de Uso utilitário, estando principalmente presente na estrutura de todas as construções bem feitas. Existe muito mais coisa envolvida na determinação dos Valores de Uso e, portanto, nos Valores de Troca, que a vã filosofia de KM poderia supor naqueles tempos sombrios.

O profissional especializado

A competência técnica do Ourives (profissional que mexe com o ouro) faz com que a avaliação de VALOR ultrapasse o Tempo dispendido pelo trabalhador, tão somente.

A abordagem de KM, percebe-se, é mais a de um escritor e jornalista, sua profissão, do que a de um engenheiro de produção, capaz de analisar parâmetros técnicos, até de segurança, no caso do ferro. Quem já viu o trabalho em uma siderurgia sabe que a manipulação do Ferro fundido é bem mais perigosa do que a do Ouro fundido. O Ouro é bem mais fácil de moldar. Já o aspecto de extração do Ouro envolve uma enorme dificuldade, a começar pela sua raridade.

Explorando mais contradições no modelo de Valor da Mercadoria

Suponhamos dois grupos de operários que fabricam um mesmo modelo de cadeira, utilizando a mesma matéria prima e as mesmas ferramentas, no mesmo ambiente de uma fábrica.

O primeiro grupo demora 30 minutos para o processo, e o segundo 50 minutos. Na fabricação é usada a serra mecanizada e o torno mecanizado de madeira. O material, o acabamento, os encaixes, os ângulos e os cortes de madeira são os mesmos para ambas as equipes.

Pelos parâmetros de KM, a cadeira fabricada em 50 minutos, pela segunda equipe, teria que ser mais cara, pois utilizou mais tempo de produção. Acrescentemos que este segundo grupo não fez pausas em relação ao primeiro, apenas é mesmo mais lento.

Então, como ficamos em relação aos postulados de KM ?

Estaríamos premiando os mais lentos, pois utilizando mais tempo sua mercadoria teria que ter mais valor ? Sendo a cadeira produzida, no mesmo local, com o mesmo material, poderia ser mais cara ?

Em termos de Mercado, a segunda equipe, a mais lenta, perderia a sua chance de vender seu produto, em função de algo que será tratado mais à frente: a CONCORRÊNCIA.

Mas a premissa de igualdade da mercadoria fica comprometida, principalmente se o segundo grupo garantir um mercado fiel entre pessoas que preferem mercadorias fabricadas com mais lentidão, mesmo que isto não garanta mais qualidade, como forma de ostentação de uma Marca. Conhecendo marketing, sabemos que muitas fábricas produzem duas linhas do mesmo produto, colocando naqueles com mais qualidade uma outra marca. Mas a fábrica é a mesma.

O mesmo fazem certos restaurantes, que servem a comida originária da mesma cozinha, para um público seleto na sua sede principal, e as porções mal cozidas e com aparência comprometida em um local mais simples, para um público não tão seleto quanto o primeiro.

Algumas razões para a Interpretação de Karl Marx

As interpretações imprecisas de Karl Marx tem origem no contexto de sua época, o fato de nunca ter vivido como participante efetivo das verdades econômicas dos operários, faltando-lhe, portanto, elementos para avaliar os fatores humanos e técnicos envolvidos na avaliação correta do Valor da Mercadoria.

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