sábado, 18 de janeiro de 2020

Desregulamentação financeira, Lavagem de dinheiro e Tráfico de drogas

Desregulamentação financeira

Enxugamento das regras financeiras sob o pretexto de promover a atividade comercial e a acumulação de capital.

Lavagem de dinheiro

Transformação do “dirty money” (dinheiro sujo) em “washed money” (dinheiro lavado), através de operações financeiras que parecem ter relação com a atividade comercial e/ou industrial, tendo como destino paraísos fiscais.

Tráfico de drogas

Atividade comercial surgida da necessidade dos povos andinos produzirem algo para minimizar os efeitos da altitude, que se presta também à sua subsistência.

Efeitos da desregulamentação financeira sobre o Sistema Financeiro

Nos anos 1970 até os anos 1990 foram tomadas, intencionalmente, medidas que tinham o rótulo de promotoras e facilitadoras da atividade comercial, mas que realmente tinham por intuito promover e facilitar o trânsito dos capitais ligados ao narcotráfico. Nesta época foi criado o Mercosul, criou-se a flexibilização do câmbio,

Em 2004, o Conselho Monetário Nacional tomou algumas medidas neste sentido:

3217 – A empresa pode quitar operações de crédito internacional diretamente com a instituição bancária. Antes da medida, era preciso fazer a remessa do dinheiro convertido à moeda do país destino, diretamente ao fornecedor, no dia do pagamento.

3218 – Garante a emissão de debêntures por empresas brasileiras intermediada pelo BID e Banco Mundial. Antes a emissão era garantida apenas pelo BACEN (Banco Central), portanto as empresas brasileiras não faziam esta operação.

Globalização – aumenta a quantidade de produtos comercializados no mercado internacional, bem como a quantidade de operações financeiras resultantes deste aumento. Para conseguir a efetivação da globalização, o câmbio foi flexibilizado, ou seja, medidas foram tomadas para facilitar o comércio internacional, importação e exportação.



Em que consiste o tráfico de drogas

O tráfico de drogas é uma atividade ilícita, já que se refere a um produto ou produtos não enumerados nas tabelas internacionais de comércio, não possui empresas registradas que os colham ou beneficiem e não tem cotação nas Bolsas de Valores Nacionais ou Internacionais.

E o que o produtor ou comerciante deste tipo de mercadoria vai fazer para poder usufruir do dinheiro e enriquecer, se dinheiro de atividade ilegal também é ilegal ?

O tráfico de drogas exige um processo posterior ao de ganho do dinheiro chamado de Lavagem de Dinheiro. Portanto, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro são duas etapas de um processo.
Mas o que chamamos de tráfico de drogas, inserido no conceito de Globalização, que foi um dos fatores para a desregulamentação financeira, se transformou em Tráfico Internacional de Drogas, já que o mercado consumidor dos países produtores, notadamente pobres, não proporcionaria o lucro esperado pelos interessados nesta atividade.

Já dissemos que os insumos para as drogas, folhas e flores da maconha e as folhas de coca, são típicos da América do Sul. As maiores plantações estão nas florestas do Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru. E estes países são pobres, e encontraram nestes produtos um meio de subsistência.

O tráfico na América do Sul tem mais papel produtor do que consumidor. Os grandes mercados consumidores estão na Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão e China.

Como é feita a lavagem de dinheiro do tráfico ?

Uma das coisas a se considerar em relação ao tráfico de drogas globalizado é o volume de dinheiro gerado. Se o produtor ou atravessador deste produto declarar seus ganhos integralmente, será certamente preso, pois não terá negócios compatíveis com estes ganhos.

Então é preciso “fingir” que tem negócios em volume compatível com o dinheiro declarado. Sendo o volume de dinheiro muito grande, o dono deste negócio pode criar empresas de fachada, inclusive comprando edificações, equipamentos, móveis e contratando empregados. Afinal, o dinheiro é quase interminável, que é possível criar estes cenários que enganam quem perguntar ao dono do negócio se aquilo que ele explora daria o dinheiro que ele ganha.

Vamos supor uma lavagem com uma rede de supermercados. O Traficante vai gastar um dinheiro comprando os imóveis para a rede, contratar empregados, comprar estoque e tudo o mais. No fim do mês, não tendo vendido o suficiente para provar o valor do faturamento que vai justificar seus ganhos com o tráfico, ele pode, simplesmente, jogar o restante do estoque que corresponda a 90% do que comprou (para não dar muito na cara, deve sobrar um pouco dos produtos nas prateleiras) no lixo. Compreenderam ?

Mas existem outras formas de se lavar o dinheiro, além do que nem uma rede de supermercados costuma bastar para lavar tanto dinheiro. Também o início das atividades deste “empresário” devem parecer normais, ou seja, no início de um negócio, nenhum empresário tem um lucro grande. O traficante deve fazer o possível para que os ganhos sejam compatíveis com a realidade.


Uma alternativa é simular operações de exportação e se beneficiar das medidas 3217 e 3218 do Conselho Monetário Nacional. E quando o relacionamento se dá com os bancos como intermediários, a coisa melhora bastante. Os gerentes e o dono do banco sabem que existem traficantes. Basta fazer a operação de forma a não chamar a atenção de órgãos reguladores e de inteligência financeira. Um dos meios é o fracionamento dos pagamentos e remessas.

Conclusão

Como dissemos, Lavagem de Dinheiro e Tráfico de Drogas andam “de mãos dadas”. Mas sem os benefícios de medidas que facilitem o trânsito do dinheiro gerado, fica impossível esconder os ganhos atrás de uma “cortina de honestidade”.

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Bibliografia:

A Crise Financeira Internacional, seus efeitos na América Latina e a integração regional como moderador dos efeitos negativos na região – Alexandre César Cunha Leite e Maylle Alves Benício
Estado, Narcotráfico e Sistema Financeiro: Aproximações – Ney Jansen Ferreira Neto
O Sistema Financeiro e a Lavagem de Dinheiro – Edna Costa Sousa