segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Sobre homens e personalidades míticas

 

O homem, em nenhum tempo, é dono dos princípios e das causas dos eventos históricos. Seu período de existência físico é limitado num período que não excede a duração máxima estatística observada no tempo em que vive. Nestes anos 2020, a expectativa de vida é de 75 anos.

O tempo e o fato

O homem que chega em sua época só pode fazer deduções lógicas da existência sobre os homens da sua época. Os costumes, a língua, a política e a economia sofrem transformações inimagináveis. Qualquer dedução só procede se tiver uma base documental, e quando se referir a um tempo passado deve ser considerada como cada vez mais imprecisa, quanto mais longe estiver aquele tempo em questão.


Por exemplo, vamos pensar que temos que fazer uma dedução a respeito de uma situação social ocorrida há 50 anos atrás. Em seguida, consideremos também que estamos na faixa etária que vai de 50 a 60 anos. Nossa idade, à época do fato, estava entre 0 e 9 anos. Esta idade não possibilita análise “in tempu”, pois o mínimo para isto orça em 25 anos de idade, quando nosso cérebro “fecha”, ou seja, atingimos uma maturidade dedutiva mínima, com consciência social.


O que fazemos ? Buscamos pelo menos um intervalo de 10 anos (década) de eventos anteriores ao evento e 10 anos posteriores, documentação da época, pois esta tem o exato clima que proporcionou aquele desenrolar de fatos DA ÉPOCA. Este é um dos princípios da historiografia: procurar documentação o mais próximo da época em que um fato se deu.

Tempos longínquos

Mas o ser humano é um pesquisador e pretensioso. Quanto maior o intervalo de tempo entre a sua existência e um fato, tanto mais pretensioso ele será, ao tentar analisar o fato acontecido. Agora vamos exemplificar com um fato que ocorreu há 500 anos atrás. Este número 500 é 500/75, ou 6,67 vezes a expectativa de vida deste pesquisador que tenta “sentir” o fato como se naquela época tivesse vivido. Multiplique este fator por 10 (a nossa década), e vai descobrir que terá que dissecar 70 (aproximação por cima) anos anteriores ao fato e mais 70 posteriores (para se inteirar de causas e de consequências). E terá que procurar as evidências na documentação da época.

Tempos muito longínquos

Vamos lidar agora com fatos acontecidos há, por exemplo, 3000 anos atrás. Calcule o coeficiente, a exemplo do que fizemos anteriormente: 3000/75 = 40. O tempo abarcado em nossa pesquisa histórica será de 40x10 anos antes e 40x10 anos depois do fato. Vamos lidar com 800 anos de história, e teremos que achar os documentos da época, fazer mapeamentos complexos, analisando costumes e sua evolução, analisando alterações econômicas e talvez até mudanças de linguagens ou dialetos. Este não é um trabalho para amadores.


Veja em que ano vamos cair: 2020 – 3000 = 880 aC (antes de Cristo). Nesta época, Atenas e Esparta ainda existem como reinos. Israel está dividido em Reino de Judá e Reino de Israel. Os etruscos estão dominando a península itálica. Homero, o poeta cego, nascerá em 850 aC. Vive em Israel o profeta Elias. Portanto, são muitos fatos importantes acontecendo. Temos que pesquisar desde o ano 1280 aC até 480 aC. É uma tarefa árdua, e devemos nos precaver de dar opiniões apressadas e equivocadas sobre os fatos se desenrolando.



Se te pedirem para comentar sobre a vida dos gregos, nesta época, você terá que pesquisar o suficiente e fazer simulações mentais para se sentir um grego, e ai opinar sobre a vida desses. O mesmo para opinar sobre a vida dos cidadãos de Israel e Etruscos. Você deve pensar e se sentir como um deles, durante dias ou meses, para não passar vergonha ao falar sobre aquele período.


Os documentos da época, tendenciosos ou não, foram escritos na época, e cabe ao estudioso captar o humor, o entusiasmo ou o pessimismo dos narradores da época.

Documentação “errada”

Toda documentação de época contém não só conteúdo factual, mas o conteúdo emocional, a tônica vigente de elucidação de eventos. Portanto, não existe documentação errada. Vejamos o caso do grego Heródoto. Heródoto é tido como um historiador que, de certa forma, exagera nas características dos fatos a respeito dos povos vizinhos pois, como grego, acreditava que todos os povos vizinhos eram bárbaros. Então ele trata ironica e exageradamente os assuntos e fatos que se referem aos povos seus vizinhos, na época em que viveu.


E nós, sabendo disto, tendo constatado estes traços de discurso em seus textos, ficamos preparados para “separar o joio do trigo”. Então os textos de Heródoto se tornam úteis.

Revisionismo

Até época anterior a Internet, em que a fonte do conhecimento eram os livros, editados após revisão, os comentaristas eram poucos. E mesmo nesta época, alguns autores almejavam a fama e, para atingir seu objetivo, lançavam hipóteses do tipo “não foi bem assim”. E muitos atingiram seus objetivos, para depois de venderem muitos livros, serem desmentidos e envergonhados. Mas uma vez que tivessem ganho dinheiro suficiente, nada mais importava.


Hoje, com a Internet, a situação piorou muito. Fedelhos de 12 anos querem comentar sobre assuntos que absolutamente não dominam (estão 13 anos atrasados em relação à idade da razão), não querem estudar, e emitem opiniões cujo lugar mais apropriado para desaguar seria a rede de esgoto.


Com tantas fontes disponíveis nos trabalhos do meio acadêmico, construídas com orientação de professores, podemos até tabelar os fatos por fonte, com no mínimo 10 pontos de vista. Podemos analisar os autores, sua situação, trabalhos anteriores e medir sua credibilidade em relação aquele assunto em pauta.

Conflitos de Interesse

A pandemia destes anos 2020, do corona virus Covid-19, mostrou muito a tendenciosidade de certas opiniões. Tanto presidentes, quanto governadores tentaram fazer ciência, dando opiniões estapafúrdias e dignas de dó. Sem a pesquisa, sem o conhecimento, sem o cruzamento das informações corretas e sem o tempo adequado de testes, nada pode ser dito, em termos de ciência.


Para a historiografia, acontece coisa parecida, como dissemos. É preciso uma pesquisa de um tempo proporcional ao período analisado, a mentalização necessária para se sentir naquela época e muitas comparações, para dar uma opinião sobre um tempo passado.


Governadores e prefeitos incorreram no conflito de interesse, ao emitirem opiniões e diagnósticos que os beneficiassem.

Personalidades míticas

Ora, com o afastamento de certos fatos, para intervalos de tempo de milhares de anos, a obrigação do homem seria a de pesquisar quase a história universal inteira. O homem moderno não quer ter este trabalho. Houve gente que duvidasse da existência de Homero e tivesse sugerido que ele não escreveu a Ilíada sozinho (aliás, ele não escreveu e sim recitava a saga de memória). Moisés é mais uma vítima desta preguiça humana de buscar a linha dos fatos, pois o pretenso pesquisador teria que lidar com 3300 anos de história, aproximadamente. Esta pessoa teria que conhecer a história do Egito, as possibilidades de sobrevivência no deserto, a religião judaica, relações de equilíbrio na política egípcia e uma infinidade de variáveis impalpáveis.


Maomé é considerado pelos povos ocidentais como uma invenção dos muçulmanos, para criar uma raiz palpável para sua religião. O fato é que temos milhões de muçulmanos no mundo, e esta é uma das religiões que mais cresce nestes anos 2000.


Retrocedendo aos limites extremos, chegaríamos a Adão e Eva, cuja psicologia é algo inimaginável, a partir do ponto em que se trata de duas pessoas que não tiveram mãe, ou seja, um elemento de ternura em suas vidas, e tiveram o próprio Deus como Pai, severo e que não admitia erros. Então, diante de sua fraqueza e impossibilidade de entender a situação, o homem classifica aquele contexto e seus personagens como um mito. Uma serpente falante, diante do homem limitado, vira mito.


Mas houve gente que fez pior, e concebeu a serpente como uma invenção de Eva. Imaginem a inocente Eva, sem outras pessoas para lhe incutirem a malícia (só tínhamos Deus e Adão), ter a capacidade intelectual de inventar esta mentira.


E se Adão e Eva são mitos, nem eu e nem você estamos aqui lendo este texto, pois do terceiro ser humano em diante, nascemos sempre de um casal. Ou então estou louco.


E que prova documental temos destes “personagens míticos” ? De Homero temos seus romances notórios. De Maomé temos o Alcorão. De Moisés, Adão e Eva temos a Bíblia. Estes são os mitos mais reais de que se pode ter notícia.

Conclusão

O homem se apegou, com o seu orgulho, às provas materiais. Esta situação só piorou nos últimos tempos com o advento e proliferação dos vídeos do Youtube. O que não estiver registrado em vídeo é dado como duvidoso, e até inexistente.


O homem tem que desenvolver sua faculdade superior de razoabilidade e, se puder, se orientar por uma fé racional, baseada em possibilidade derivada de fontes documentais.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Desregulamentação financeira, Lavagem de dinheiro e Tráfico de drogas

Desregulamentação financeira

Enxugamento das regras financeiras sob o pretexto de promover a atividade comercial e a acumulação de capital.

Lavagem de dinheiro

Transformação do “dirty money” (dinheiro sujo) em “washed money” (dinheiro lavado), através de operações financeiras que parecem ter relação com a atividade comercial e/ou industrial, tendo como destino paraísos fiscais.

Tráfico de drogas

Atividade comercial surgida da necessidade dos povos andinos produzirem algo para minimizar os efeitos da altitude, que se presta também à sua subsistência.

Efeitos da desregulamentação financeira sobre o Sistema Financeiro

Nos anos 1970 até os anos 1990 foram tomadas, intencionalmente, medidas que tinham o rótulo de promotoras e facilitadoras da atividade comercial, mas que realmente tinham por intuito promover e facilitar o trânsito dos capitais ligados ao narcotráfico. Nesta época foi criado o Mercosul, criou-se a flexibilização do câmbio,

Em 2004, o Conselho Monetário Nacional tomou algumas medidas neste sentido:

3217 – A empresa pode quitar operações de crédito internacional diretamente com a instituição bancária. Antes da medida, era preciso fazer a remessa do dinheiro convertido à moeda do país destino, diretamente ao fornecedor, no dia do pagamento.

3218 – Garante a emissão de debêntures por empresas brasileiras intermediada pelo BID e Banco Mundial. Antes a emissão era garantida apenas pelo BACEN (Banco Central), portanto as empresas brasileiras não faziam esta operação.

Globalização – aumenta a quantidade de produtos comercializados no mercado internacional, bem como a quantidade de operações financeiras resultantes deste aumento. Para conseguir a efetivação da globalização, o câmbio foi flexibilizado, ou seja, medidas foram tomadas para facilitar o comércio internacional, importação e exportação.



Em que consiste o tráfico de drogas

O tráfico de drogas é uma atividade ilícita, já que se refere a um produto ou produtos não enumerados nas tabelas internacionais de comércio, não possui empresas registradas que os colham ou beneficiem e não tem cotação nas Bolsas de Valores Nacionais ou Internacionais.

E o que o produtor ou comerciante deste tipo de mercadoria vai fazer para poder usufruir do dinheiro e enriquecer, se dinheiro de atividade ilegal também é ilegal ?

O tráfico de drogas exige um processo posterior ao de ganho do dinheiro chamado de Lavagem de Dinheiro. Portanto, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro são duas etapas de um processo.
Mas o que chamamos de tráfico de drogas, inserido no conceito de Globalização, que foi um dos fatores para a desregulamentação financeira, se transformou em Tráfico Internacional de Drogas, já que o mercado consumidor dos países produtores, notadamente pobres, não proporcionaria o lucro esperado pelos interessados nesta atividade.

Já dissemos que os insumos para as drogas, folhas e flores da maconha e as folhas de coca, são típicos da América do Sul. As maiores plantações estão nas florestas do Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru. E estes países são pobres, e encontraram nestes produtos um meio de subsistência.

O tráfico na América do Sul tem mais papel produtor do que consumidor. Os grandes mercados consumidores estão na Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão e China.

Como é feita a lavagem de dinheiro do tráfico ?

Uma das coisas a se considerar em relação ao tráfico de drogas globalizado é o volume de dinheiro gerado. Se o produtor ou atravessador deste produto declarar seus ganhos integralmente, será certamente preso, pois não terá negócios compatíveis com estes ganhos.

Então é preciso “fingir” que tem negócios em volume compatível com o dinheiro declarado. Sendo o volume de dinheiro muito grande, o dono deste negócio pode criar empresas de fachada, inclusive comprando edificações, equipamentos, móveis e contratando empregados. Afinal, o dinheiro é quase interminável, que é possível criar estes cenários que enganam quem perguntar ao dono do negócio se aquilo que ele explora daria o dinheiro que ele ganha.

Vamos supor uma lavagem com uma rede de supermercados. O Traficante vai gastar um dinheiro comprando os imóveis para a rede, contratar empregados, comprar estoque e tudo o mais. No fim do mês, não tendo vendido o suficiente para provar o valor do faturamento que vai justificar seus ganhos com o tráfico, ele pode, simplesmente, jogar o restante do estoque que corresponda a 90% do que comprou (para não dar muito na cara, deve sobrar um pouco dos produtos nas prateleiras) no lixo. Compreenderam ?

Mas existem outras formas de se lavar o dinheiro, além do que nem uma rede de supermercados costuma bastar para lavar tanto dinheiro. Também o início das atividades deste “empresário” devem parecer normais, ou seja, no início de um negócio, nenhum empresário tem um lucro grande. O traficante deve fazer o possível para que os ganhos sejam compatíveis com a realidade.


Uma alternativa é simular operações de exportação e se beneficiar das medidas 3217 e 3218 do Conselho Monetário Nacional. E quando o relacionamento se dá com os bancos como intermediários, a coisa melhora bastante. Os gerentes e o dono do banco sabem que existem traficantes. Basta fazer a operação de forma a não chamar a atenção de órgãos reguladores e de inteligência financeira. Um dos meios é o fracionamento dos pagamentos e remessas.

Conclusão

Como dissemos, Lavagem de Dinheiro e Tráfico de Drogas andam “de mãos dadas”. Mas sem os benefícios de medidas que facilitem o trânsito do dinheiro gerado, fica impossível esconder os ganhos atrás de uma “cortina de honestidade”.

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Bibliografia:

A Crise Financeira Internacional, seus efeitos na América Latina e a integração regional como moderador dos efeitos negativos na região – Alexandre César Cunha Leite e Maylle Alves Benício
Estado, Narcotráfico e Sistema Financeiro: Aproximações – Ney Jansen Ferreira Neto
O Sistema Financeiro e a Lavagem de Dinheiro – Edna Costa Sousa