terça-feira, 6 de novembro de 2018

Entendendo o Marxismo - Trabalho Coletivo

Ainda no capítulo 1 de sua obra "Contribuição à crítica da Economia Política", Karl Marx faz 3 afirmações sobre o Trabalho para produzir uma mercadoria, que apresentaremos agora:

  1. O caráter social do trabalho não advém de o trabalho do indivíduo tomar a forma abstrata da generalidade, ou de o seu produto tomar a forma de um equivalente geral;
  2. É o regime comunitário, no qual repousa a produção, que impede que o trabalho do indivíduo seja trabalho privado, e que, pelo contrário, faz diretamente do trabalho individual a atividade de um membro do organismo social;
  3. O trabalho que se manifesta no valor da troca é, por hipótese, o trabalho do indivíduo isolado. E ao tomar a forma do seu contrário imediato, a forma da generalidade abstrata, que ele se torna Trabalho Social;

Dizer que o trabalho de indivíduos se torna um trabalho generalizado, é o mesmo que comparar diferentes espécies de açúcar. Mesmo todos sendo açúcar e servindo para adoçar, seus conteúdos minerais e sua passagem pelo corpo, além do próprio gosto, são bem diferentes. Mesmo em uma turma de fábrica com as mesmas atribuições, por exemplo, ensacadores, existem característicos pessoais de:

  • líderes,
  • resolvedores de problemas,
  • porta-vozes,
  • pacificadores e
  • incentivadores da equipe.

O regime de trabalho de fábricas, mesmos tendo os tipos apresentados, não pode ser chamado de comunitário, e nem talvez de cooperativo, pois as pessoas trabalham pelo sustento. Este aspecto derruba por completo a visão de Trabalho Social. Os operários trabalhavam, particularmente no tempo de Marx, de forma a evitar as punições e a perda do pagamento devido. Se naquela época o trabalho fosse sequer cooperativo, operários não teriam perdido dedos, mãos e até braços naquele caos das fábricas.

Trabalho Coletivo e Produto

Vamos usar, mais uma vez, o método de análise das afirmações de KM, de forma a entender seu ponto de vista sobre esta faceta do problema da mercadoria:

  1. Se o operário A produz o produto P, e o operário B produz o mesmo produto P, o produto P é um equivalente geral;
  2. O produto P não é propriedade abstrata nem do empregado A e nem do empregado B, mas da comunidade dos operários;
  3. Mas o Valor de Troca do produto P corresponde ao tempo de trabalho de um empregado, seja A ou seja B. O Valor de Troca é geral, mesmo baseado em uma unidade de esforço individual.

Existe um sofisma neste raciocínio oferecido pelas últimas três afirmativas de KM. Ele omite as horas, isto é, o tempo trabalhado, fundindo e tirando a média dos trabalhos dos operários, como se, mesmo com o auxílio de máquinas, produzissem uma mercadoria num tempo bem próximo. Outro sofisma é o discurso de "comunidade de operários", argumento que já refutamos mais acima.

Ao passar pela fábrica, o empregado deixa uma individualidade impressa, até porque os líderes das unidades produtivas precisam ressaltar os bons exemplos, para que os demais empregados se espelhem neles. Um só empregado, com senso de liderança e de solidariedade, não pelo espírito de comunidade, mas por dom natural peculiar, pode incutir ânimo nas equipes, promovendo o aumento da produção. Isto é natural de pessoas trabalhando juntas por horas e por anos a fio.

Da mesma forma, um só empregado rebelde pode comprometer o desempenho dos demais pela sua influência deletéria, pela sua revolta, pelo seu pessimismo ou espírito de dissensão. Estes são fenômenos grupais, muito diferentes de fenômenos sociais, nos quais o objetivo é a harmonia de convívio. Em uma fábrica o objetivo não é o convívio, e sim a obtenção do sustento, com muito mais razão nos tempos da Revolução Industrial do que nos tempos de hoje.

KM implementa seus sofismas com base num coletivismo que busca seu valor através da tentativa de cálculo do trabalho contido na produção, representado pelo cálculo do valor da Mercadoria, seja pelo seu valor de uso, seja pelo seu valor de troca.

Vamos prosseguir com o raciocínio de KM, em seu esforço de introduzir as relações sociais no trabalho, tentando lhe dar um valor, pela quantificação do valor da mercadoria produzida:

  1. O trabalho criador do Valor de Troca caracteriza-se, finalmente, pelo fato de as relações sociais entre as pessoas se apresentarem, por assim dizer, como que invertidas, como que uma relação social entre as coisas (materialismo das relações sociais);
  2. É comparando um valor de uso com o outro, na sua qualidade de Valor de Troca, que o trabalho de diversas pessoas é comparado no seu aspecto de trabalho igual e geral (igualdade pelo trabalho que produz uma mercadoria);
  3.  Se é pois verdade dizer que o Valor de Troca é uma relação entre pessoas, é necessário acrescentar: uma relação que se esconde sob a aparência das coisas;

Vamos analisar estas afirmações tão importantes para compreender este Conceito Social que KM quis construir, sobre o Valor das Coisas.

Em (1) constatamos a tentativa de realização do Materialismo Dialético, bem explicado no texto simples da Wikipedia:

Materialismo dialético é uma concepção filosófica que defende que o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos tanto modelam animais irracionais e racionais, sua sociedade e cultura quanto são modelados por eles, ou seja, que a matéria está em uma relação dialética com o psicológico e o social.

Não me perguntem se concordo ou não com o materialismo dialético. As conclusões estarão no final desta longa série. Só acrescentem este conceito ao rol de conceitos de Marx.

Portanto, KM tenta mostrar (sigam a lógica dele) uma Relação Social entre as mercadorias pelo fato de serem produzidos em uma Unidade Coletivista dentro de uma fábrica. Isto tem base no Materialismo Dialético, mesmo que pareça um grande disparate.

Em (2) o Trabalho de equipes de produção de produtos envolvidos em uma Troca é comparado pelo seu Valor de Troca. No fundo, o Valor de Troca é o resultado da comparação dos Tempos para se produzir ambos, com os conceitos aprendidos até agora.

Estes Valores de Uso de e de Troca foram explicados no primeiro artigo desta série:

Entendendo o Marxismo - Mercadoria

Como já dissemos, então, o Valor de Troca provém do Cálculo do Tempo de Produção da Mercadoria, e que este tipo de tese de KM se apóia sobre "produtos que possam ser fabricados em grande quantidade e em tempo exíguo, de forma a oferecer ao mercado um valor baixo". Bens como veículos estão fora do escopo necessário ao nosso estudo, pelo menos por enquanto.

Desta forma, o tempo de produção dos bens mais utilizados, e que portanto precisam ser fabricados em grande quantidade, e que portanto vão oferecer um valor baixo, é praticamente o mesmo. Desta forma, teríamos o equivalente do trabalho dos empregados como sendo praticamente o mesmo para uma enorme gama de produtos, chamados de Mercadorias Simples no primeiro artigo desta série, cujo link está dois parágrafos acima.

E como conclusão deste raciocínio, em função do "equivalente de trabalho dos empregados", teríamos que os empregados, em geral, tem igual potencial de Trabalho. Ou seja, empregados socialmente iguais na função de Trabalho.

Duas visões sociais

Após esta conclusão a que chegamos, poderíamos ter duas visões do Trabalho acima conceituado pelo dono da fábrica: a do capitalista e a do socialista.

O Capitalista a perigosa leitura materialista do "equivalente de trabalho" dos empregados:

"Estão vendo, em geral os empregados das nossas fábricas são exatamente iguais. Ninguém é insubstituível, e se dispensarmos um, encontraremos igual força de trabalho numa infinidade vde candidatos aos empregos. Os trabalhadores formam uma massa de ferramentas de trabalho iguais. Assim, facilmente encontraremos peças de reposição humanas de nosso interesse".

Um socialista faria a seguinte leitura tendenciosa deste "equivalente de trabalho":

"Somos todos iguais no trabalho, portanto, socialmente, a nossa causa é comum (comunismo)".

E foi isso que aconteceu em alguns países desde os anos 1900.

A seguir

Exemplos práticos da valoração de Mercadorias e suas consequências.









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