sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Relatório da Distribuição de Renda no Brasil

A distribuição de Renda no Brasil é boa; é justa; tem melhorado ?

Se você tem estas dúvidas, deve ler este post.

Ministério da Fazenda

Em vista dos constantes achaques sobre os contribuintes e da busca por mais transparência, um dos lados resolveu reagir. O Ministério da Fazenda resolveu consolidar os produtos das Declarações de Renda dos Contribuintes junto a outras informações de Pesquisas Governamentais em um só relatório resumo, mais claro para os públicos técnicos e leigos, porém conservando a substância de análise dos dados em gráficos. Deste trabalho surgiu o RELATÓRIO DA DISTRIBUIÇÃO PESSOAL DA RENDA E DA RIQUEZA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA.

As fontes para geração deste relatório são:


  • PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicíçlios;
  • POF - Pesquisa de Orçamentos Familiares;
  • IRPF - Imposto de Renda da Pessoa Física;

O Brasil ocupava em 2013 a 28ª posição em relação ao GINI (sobre nome do matemático Italiano Conrado Gini, índice do Banco Mundial para estimativa da Distribuição de Renda), com o coeficiente de 0,59 (quanto maior, maior a distribuição da Renda.

Resultados

Os dados do Relatório de Maio de 2016 apresentam parte da conclusão em sua página 14:

"Os dados disponíveis atualmente indicam haver forte concentração de renda e da riqueza nos extratos mais altos dos contribuintes brasileiros, apesar de uma leve queda na partiucipação desse extrato da população ao longo dos anos".

"A distribuição da riqueza também apresenta elevado grau de concentração . Apenas 8,4 % da população se apropria de 59,4 % da riqueza, no Brasil".
Fatores que levaram a este Resultado

Relatório completo em: (Google: "RELATÓRIO DA DISTRIBUIÇÃO PESSOAL DA RENDA E DA RIQUEZA pdf" )

http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/transparencia-fiscal/distribuicao-renda-e-riqueza/relatorio-distribuicao-da-renda-2016-05-09.pdf/view

Fatores que conduziram a este resultado


  • Lucros bancários exorbitantes;
  • Juros altos até o ano 2016;
  • Empréstimos do BNDES em condições privilegiadas a grandes grupos econômicos;
  • Altos impostos na carga da classe média (a alta produz, a baixa usufrui deste aporte em programas sociais);
  • A mão de obra desqualificada não consegue gerar renda suficiente para compensar o que é gasto para mantê-la por intermédio de benefícios, num ciclo vicioso que a impede de se qualificar e consequentemente aumentar a sua renda;
  • Expansão monetária criada pelo Estado. É o crédito oferecido à razão de 9 para 1. Ou seja, o crédito exagerado contraditoriamente gera a queda de renda global da população;

Comentário

A conclusão está no título anterior. Nosso comentário é que o crédito deve ser oferecido ao extrato populacional que tem menos riqueza, e não para quem está no topo da renda. "Dinheiro chama dinheiro". Para quem já tem muito, qualquer crédito provoca ganhos exorbitantes. Qualquer 0,1 % para os grandes grupos econômicos é um ganho extraordinário até pela fórmula de juros simples:

J = Cit/100

Imagine para a de juros sobre juros.


domingo, 11 de novembro de 2018

Trabalho criador de Valor de Troca e conteúdo social

Em "O Capital", o filósofo Karl Marx diz:

"O trabalho criador de Valor de Troca caracteriza-se, finalmente, pelo fato de as Relações Sociais entre as pessoas se apresentarem, por assim dizer, como uma 'Relação Social entre as coisas'".

Parece uma metáfora exagerada. Não vamos julgar agora. Vamos ver se na continuação da sua assertiva ele consegue dar sentido ao que propõe:

"É comparando um Valor de Uso com um outro, na sua qualidade de Valor de Troca, que o trabalho de diversas pessoas é comparado no seu aspecto de trabalho Igual e Geral".

Vejamos se a sua última conclusão, prosseguindo no seu raciocínio, é correta:

"Se é pois verdade dizer que o Valor de Troca é uma relação entre as pessoas, é necessário acrescentar uma relação que se esconde sob a aparência das coisas".

Análise

Vamos analisar, nos dias de hoje, se isto procede:

Suponhamos dois desconhecidos, e para tornar o modelo mais nítido, dois desconhecidos de classes sociais distantes. O Primeiro deseja trocar algo que tem, que não usa mais, por uma moto de 150 cilindradas. Ele vam a conhecer uma Segunda pessoa, que possui esta moto, e começa a combinar a troca.

A Segunda pessoa deseja um XBox One, e apesar de seu alto poder aquisitivo, não quer comprar um novo. O Primeiro tem este equipamento, e não o usa mais. Na estimativa dos valores, evidentemente depreciados, pois o XBox não é novo, assim como a moto não é nova. Os anos de fabricação não são os mesmos tanto da moto quanto do XBox One.

Mas mesmo sendo ambos usados, a Segunda pessoa argumenta que o XBox One não cobre o Valor de Troca da moto, respeitadas as condições de uso. Esta Segunda pessoa pergunta se o Primeiro não tem outro equipamento eletrônico que não use mais. O Primeiro tem um som muito bom e que não usa mais. A Troca chega a um acordo.

Para a Segunda pessoa, a moto não tem mais nenhum valor de uso. Está encostada, e provavelmente vai precisar de uma revisão. Para o Primeiro, tanto o XBox quanto o som são estorvos, que não usa mais, e que deixados sem uso podem se estragar.

A Troca

Como dissemos, a troca é efetuada. No nível de Troca, não existe Valor Social nenhum. Não existe conhecimento do Valor de Uso inicial imediatamente após a conclusão da fabricação da Mercadoria. Mesmo que fosse lembrado, as mercadorias já são antigas, usadas, e não tem mais seu valor original.

Mercadoria não tem memória, não tem história. Se houvesse Valor Social envolvido, a Primeira Pessoa envolvida na troca sempre utilizaria o som comprado. A compra seria uma espécie de "Compromisso de Uso". Acontece que isto é normal na sociedade. As pessoas param de usar as coisas, ou compram coisas novas, mais modernas, mais eficientes, menores, ou mesmo combinadas com outras funções. E fazem isto mesmo que a Mercadoria tenha sido adquirida por alto preço.

Se fosse verdadeiro o argumento do Valor Social, as pessoas não se desfariam de seus bens adquiridos até por valores inferiores aos da Compra. Mercadoria não tem história, como o tem os homens.

O Valor de Troca, segundo KM, pode se reduzir com o Tempo, à medida em que a Indústria consegue produzir em maior quantidade e até mais rápido, quando se aborda o problema por unidade.

E mesmo a mercadoria nova, sendo produzida de forma mais rápida, é mais barata. A antiga foi produzida em condições anteriores, mais lentamente, e portanto seria mais cara. Mas o Mercado leva em conta o uso que se faz, e não a História da Mercadoria. Exceção é feita no mercado de antiguidades e só. E ainda assim, a antiguidade ainda tem o agravante de ser "rara", ou seja, a quantidade disponível no presente deve ser pouca ou bem pouca.

Portanto, o tal "Valor Social" só se dá nos casos onde a "história" do Valor de Uso é importante.

O termo SOCIAL, na teoria de KM, é puramente um fator de despertamento do raciocínio filosófico necessário para discutir e aperfeiçoar a Economia, elevada à categoria de Ciência Social.

Toda crítica é positiva para o esclarecimento e para o despertar de novos detalhes.

Esclarecimentos quanto ao caráter Social


  • O Valor Social não está na Mercadoria, como valor "coagulado", mas no Trabalho do operário, em seu meio social. E como ?
  • O Trabalho, seja qual for a remuneração do trabalhador, é fator de Integração Social.
  • A remuneração do Trabalho deve ser proporcional ao tempo do trabalho e à relevância da função desempenhada para a evolução social.

Portanto, quanto mais antigos os empregados, melhor deve ser a sua remuneração. E quanto maior ma responsabilidade, também maior deve ser a remuneração do trabalhador.

Deve-se ter muito cuidado com os termos "Trabalho Simples", "Trabalho Igual" e "Valor Social" de Karl Marx, pois abre precedentes para que os capitalistas tratem todos os trabalhadores como uma massa de Pessoas Iguais, sob a justificativa de que o Trabalho é Social, e não Individual.

Conclusão

O trabalho transfere este "Conteúdo Social" da Mercadoria para o Trabalhador. Este deve ser reconhecido individualmente, e não coletivamente, pois "embaça" a visão do trabalhador.

 

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Entendendo o Marxismo - O Exemplo de Valor

Diz Marx, em sua obra:

"Assim como uma Libra de Ferro e uma Libra de Ouro representam a mesma massa, apesar da diferença de suas propriedades físicas e químicas, assim os Valores de Uso de duas Mercadorias, CONTENDO IGUAL TEMPO DE TRABALHO, representam o mesmo Valor de Troca".

E segue, em sua lógica:

"O Valor de Troca aparece, portanto, como uma FORMA NATURAL SOCIALMENTE DETERMINADA DOS VALORES DE USO, forma determinada esta que lhes é devolvida enquanto objetos que são, e graças à qual, no processo de TROCA, eles se substituem um ao outro em relações quantitativas determinadas, e formam equivalentes, do mesmo modo que os corpos químicos simples se combinam em certas proporções, formando equivalentes químicos".

Karl Marx, com este último argumento, quer inserir as Trocas de Mercadorias no ritual de nossos rituais Sociais. A Troca, naqueles tempos de Marx, ainda prevalecia, ao invés da compra através da moeda. Então ele interpretava e inseria as trocas de mercadorias no contexto social, como rito social.

Hoje, já substituímos esta Troca por algo denominado como Compra e Venda, e segregamos estas permutas para o campo da Economia. Lembre-se, o trabalho era quase toda a vida das pessoas, pois elas laboravam por 18 horas diárias, a ponto de caírem no sono, durante o trabalho. Não existe mais Troca, e não existe caráter social no fenômeno da Compra e nem no da Venda.

Também não faz mais parte do fenômeno de classes o grande acesso às mercadorias, que os burgueses tiunham, em detrimento da plebe, pois hoje O CRÉDITO AO CONSUMIDOR EM GERAL ESTÁ BEM FACILITADO. Não existe mais luta de classes para o direito ao consumo.

Relação Social de Produção

E Marx continua:

"Somente o hábito da vida cotidiana faz considerar como banal e como evidente o fato de uma Relação Social de Produção tomar a forma de um objeto, dando às relações entre as pessoas, no seu trabalho, o aspecto de uma relação que se estabelece entre as coisas e as pessoas".

O trabalho intenso nas fábricas, naqueles tempos de Revoiução Industrial, com os operários passando longas horas laborando, podia enganar a mente dos desavisados e dos trabalhadores, a ponto de convencê-los de que a fábrica era quase como a CASA daquelas pessoas, ou um lugar de CULTO, ou seja, Culto ao Trabalho. A busca do sustento era o único ritual daquela massa de Trabalhadores. Os produtos continham aritmeticamente um Tempo dos Operários, e conceitualmente um Conteúdo Social, como queria Marx.

Mas isto é um engano. Conteúdo Social não pode ser vendido. Se assim fosse, a Mercadoria também pertenceria ao "agrupamento social" dos trabalhadores, e não poderia ser vendida sem autorização deles. Mas isto não procede. A Mercadoria é do proprietário da fábrica, que dá um pagamento aos operários, pela VENDA da mão de obra destes.

Não existe romantismo e nem fenômeno social na produção. O Trabalho é, antes de tudo, um Direito Social de inserção na Sociedade, e existem trabalhos que não produzem Mercadorias palpáveis.

A Libra de Ferro e a Libra de Ouro

O exemplo de KM se mostra um pouco infeliz, ao comparar apenas o Tempo de Produção entre uma mercadoria feita de ouro e outra confeccionada de ferro. As pessoas dão especial valor ao brilho das mercadorias confeccionadas com o metal Ouro.

O Ferro possui outra associação na mente humana, que lhe atribui a dureza necessária para a construção de ferramentas e a ductibilidade apropriada para a moldagem de peças complexas como engrenagens, encaixes, conexões, articulações, etc.

Um possui Valor de Uso decorativo, ostensivo, enquanto o outro tem Valor de Uso utilitário, estando principalmente presente na estrutura de todas as construções bem feitas. Existe muito mais coisa envolvida na determinação dos Valores de Uso e, portanto, nos Valores de Troca, que a vã filosofia de KM poderia supor naqueles tempos sombrios.

O profissional especializado

A competência técnica do Ourives (profissional que mexe com o ouro) faz com que a avaliação de VALOR ultrapasse o Tempo dispendido pelo trabalhador, tão somente.

A abordagem de KM, percebe-se, é mais a de um escritor e jornalista, sua profissão, do que a de um engenheiro de produção, capaz de analisar parâmetros técnicos, até de segurança, no caso do ferro. Quem já viu o trabalho em uma siderurgia sabe que a manipulação do Ferro fundido é bem mais perigosa do que a do Ouro fundido. O Ouro é bem mais fácil de moldar. Já o aspecto de extração do Ouro envolve uma enorme dificuldade, a começar pela sua raridade.

Explorando mais contradições no modelo de Valor da Mercadoria

Suponhamos dois grupos de operários que fabricam um mesmo modelo de cadeira, utilizando a mesma matéria prima e as mesmas ferramentas, no mesmo ambiente de uma fábrica.

O primeiro grupo demora 30 minutos para o processo, e o segundo 50 minutos. Na fabricação é usada a serra mecanizada e o torno mecanizado de madeira. O material, o acabamento, os encaixes, os ângulos e os cortes de madeira são os mesmos para ambas as equipes.

Pelos parâmetros de KM, a cadeira fabricada em 50 minutos, pela segunda equipe, teria que ser mais cara, pois utilizou mais tempo de produção. Acrescentemos que este segundo grupo não fez pausas em relação ao primeiro, apenas é mesmo mais lento.

Então, como ficamos em relação aos postulados de KM ?

Estaríamos premiando os mais lentos, pois utilizando mais tempo sua mercadoria teria que ter mais valor ? Sendo a cadeira produzida, no mesmo local, com o mesmo material, poderia ser mais cara ?

Em termos de Mercado, a segunda equipe, a mais lenta, perderia a sua chance de vender seu produto, em função de algo que será tratado mais à frente: a CONCORRÊNCIA.

Mas a premissa de igualdade da mercadoria fica comprometida, principalmente se o segundo grupo garantir um mercado fiel entre pessoas que preferem mercadorias fabricadas com mais lentidão, mesmo que isto não garanta mais qualidade, como forma de ostentação de uma Marca. Conhecendo marketing, sabemos que muitas fábricas produzem duas linhas do mesmo produto, colocando naqueles com mais qualidade uma outra marca. Mas a fábrica é a mesma.

O mesmo fazem certos restaurantes, que servem a comida originária da mesma cozinha, para um público seleto na sua sede principal, e as porções mal cozidas e com aparência comprometida em um local mais simples, para um público não tão seleto quanto o primeiro.

Algumas razões para a Interpretação de Karl Marx

As interpretações imprecisas de Karl Marx tem origem no contexto de sua época, o fato de nunca ter vivido como participante efetivo das verdades econômicas dos operários, faltando-lhe, portanto, elementos para avaliar os fatores humanos e técnicos envolvidos na avaliação correta do Valor da Mercadoria.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Entendendo o Marxismo - Trabalho Coletivo

Ainda no capítulo 1 de sua obra "Contribuição à crítica da Economia Política", Karl Marx faz 3 afirmações sobre o Trabalho para produzir uma mercadoria, que apresentaremos agora:

  1. O caráter social do trabalho não advém de o trabalho do indivíduo tomar a forma abstrata da generalidade, ou de o seu produto tomar a forma de um equivalente geral;
  2. É o regime comunitário, no qual repousa a produção, que impede que o trabalho do indivíduo seja trabalho privado, e que, pelo contrário, faz diretamente do trabalho individual a atividade de um membro do organismo social;
  3. O trabalho que se manifesta no valor da troca é, por hipótese, o trabalho do indivíduo isolado. E ao tomar a forma do seu contrário imediato, a forma da generalidade abstrata, que ele se torna Trabalho Social;

Dizer que o trabalho de indivíduos se torna um trabalho generalizado, é o mesmo que comparar diferentes espécies de açúcar. Mesmo todos sendo açúcar e servindo para adoçar, seus conteúdos minerais e sua passagem pelo corpo, além do próprio gosto, são bem diferentes. Mesmo em uma turma de fábrica com as mesmas atribuições, por exemplo, ensacadores, existem característicos pessoais de:

  • líderes,
  • resolvedores de problemas,
  • porta-vozes,
  • pacificadores e
  • incentivadores da equipe.

O regime de trabalho de fábricas, mesmos tendo os tipos apresentados, não pode ser chamado de comunitário, e nem talvez de cooperativo, pois as pessoas trabalham pelo sustento. Este aspecto derruba por completo a visão de Trabalho Social. Os operários trabalhavam, particularmente no tempo de Marx, de forma a evitar as punições e a perda do pagamento devido. Se naquela época o trabalho fosse sequer cooperativo, operários não teriam perdido dedos, mãos e até braços naquele caos das fábricas.

Trabalho Coletivo e Produto

Vamos usar, mais uma vez, o método de análise das afirmações de KM, de forma a entender seu ponto de vista sobre esta faceta do problema da mercadoria:

  1. Se o operário A produz o produto P, e o operário B produz o mesmo produto P, o produto P é um equivalente geral;
  2. O produto P não é propriedade abstrata nem do empregado A e nem do empregado B, mas da comunidade dos operários;
  3. Mas o Valor de Troca do produto P corresponde ao tempo de trabalho de um empregado, seja A ou seja B. O Valor de Troca é geral, mesmo baseado em uma unidade de esforço individual.

Existe um sofisma neste raciocínio oferecido pelas últimas três afirmativas de KM. Ele omite as horas, isto é, o tempo trabalhado, fundindo e tirando a média dos trabalhos dos operários, como se, mesmo com o auxílio de máquinas, produzissem uma mercadoria num tempo bem próximo. Outro sofisma é o discurso de "comunidade de operários", argumento que já refutamos mais acima.

Ao passar pela fábrica, o empregado deixa uma individualidade impressa, até porque os líderes das unidades produtivas precisam ressaltar os bons exemplos, para que os demais empregados se espelhem neles. Um só empregado, com senso de liderança e de solidariedade, não pelo espírito de comunidade, mas por dom natural peculiar, pode incutir ânimo nas equipes, promovendo o aumento da produção. Isto é natural de pessoas trabalhando juntas por horas e por anos a fio.

Da mesma forma, um só empregado rebelde pode comprometer o desempenho dos demais pela sua influência deletéria, pela sua revolta, pelo seu pessimismo ou espírito de dissensão. Estes são fenômenos grupais, muito diferentes de fenômenos sociais, nos quais o objetivo é a harmonia de convívio. Em uma fábrica o objetivo não é o convívio, e sim a obtenção do sustento, com muito mais razão nos tempos da Revolução Industrial do que nos tempos de hoje.

KM implementa seus sofismas com base num coletivismo que busca seu valor através da tentativa de cálculo do trabalho contido na produção, representado pelo cálculo do valor da Mercadoria, seja pelo seu valor de uso, seja pelo seu valor de troca.

Vamos prosseguir com o raciocínio de KM, em seu esforço de introduzir as relações sociais no trabalho, tentando lhe dar um valor, pela quantificação do valor da mercadoria produzida:

  1. O trabalho criador do Valor de Troca caracteriza-se, finalmente, pelo fato de as relações sociais entre as pessoas se apresentarem, por assim dizer, como que invertidas, como que uma relação social entre as coisas (materialismo das relações sociais);
  2. É comparando um valor de uso com o outro, na sua qualidade de Valor de Troca, que o trabalho de diversas pessoas é comparado no seu aspecto de trabalho igual e geral (igualdade pelo trabalho que produz uma mercadoria);
  3.  Se é pois verdade dizer que o Valor de Troca é uma relação entre pessoas, é necessário acrescentar: uma relação que se esconde sob a aparência das coisas;

Vamos analisar estas afirmações tão importantes para compreender este Conceito Social que KM quis construir, sobre o Valor das Coisas.

Em (1) constatamos a tentativa de realização do Materialismo Dialético, bem explicado no texto simples da Wikipedia:

Materialismo dialético é uma concepção filosófica que defende que o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos tanto modelam animais irracionais e racionais, sua sociedade e cultura quanto são modelados por eles, ou seja, que a matéria está em uma relação dialética com o psicológico e o social.

Não me perguntem se concordo ou não com o materialismo dialético. As conclusões estarão no final desta longa série. Só acrescentem este conceito ao rol de conceitos de Marx.

Portanto, KM tenta mostrar (sigam a lógica dele) uma Relação Social entre as mercadorias pelo fato de serem produzidos em uma Unidade Coletivista dentro de uma fábrica. Isto tem base no Materialismo Dialético, mesmo que pareça um grande disparate.

Em (2) o Trabalho de equipes de produção de produtos envolvidos em uma Troca é comparado pelo seu Valor de Troca. No fundo, o Valor de Troca é o resultado da comparação dos Tempos para se produzir ambos, com os conceitos aprendidos até agora.

Estes Valores de Uso de e de Troca foram explicados no primeiro artigo desta série:

Entendendo o Marxismo - Mercadoria

Como já dissemos, então, o Valor de Troca provém do Cálculo do Tempo de Produção da Mercadoria, e que este tipo de tese de KM se apóia sobre "produtos que possam ser fabricados em grande quantidade e em tempo exíguo, de forma a oferecer ao mercado um valor baixo". Bens como veículos estão fora do escopo necessário ao nosso estudo, pelo menos por enquanto.

Desta forma, o tempo de produção dos bens mais utilizados, e que portanto precisam ser fabricados em grande quantidade, e que portanto vão oferecer um valor baixo, é praticamente o mesmo. Desta forma, teríamos o equivalente do trabalho dos empregados como sendo praticamente o mesmo para uma enorme gama de produtos, chamados de Mercadorias Simples no primeiro artigo desta série, cujo link está dois parágrafos acima.

E como conclusão deste raciocínio, em função do "equivalente de trabalho dos empregados", teríamos que os empregados, em geral, tem igual potencial de Trabalho. Ou seja, empregados socialmente iguais na função de Trabalho.

Duas visões sociais

Após esta conclusão a que chegamos, poderíamos ter duas visões do Trabalho acima conceituado pelo dono da fábrica: a do capitalista e a do socialista.

O Capitalista a perigosa leitura materialista do "equivalente de trabalho" dos empregados:

"Estão vendo, em geral os empregados das nossas fábricas são exatamente iguais. Ninguém é insubstituível, e se dispensarmos um, encontraremos igual força de trabalho numa infinidade vde candidatos aos empregos. Os trabalhadores formam uma massa de ferramentas de trabalho iguais. Assim, facilmente encontraremos peças de reposição humanas de nosso interesse".

Um socialista faria a seguinte leitura tendenciosa deste "equivalente de trabalho":

"Somos todos iguais no trabalho, portanto, socialmente, a nossa causa é comum (comunismo)".

E foi isso que aconteceu em alguns países desde os anos 1900.

A seguir

Exemplos práticos da valoração de Mercadorias e suas consequências.









domingo, 4 de novembro de 2018

Entendendo o Marxismo - Mercadoria

A Burguesia

Durante a Idade Média, surgiu uma quarta classe de pessoas, entre os já pre-existentes Realeza, Nobreza e "arraia miúda" (populacho, povaréu, gentinha, ralé). O comércio era feito à base de troca (escambo) e isto dificultava o acúmulo de riquezas por parte das duas primeiras classes. Sabia-se que ambas eram ricas apenas pela demonstração aparente do seu modo de vestir e do modo de viver. Elas possuíam bens e propriedades, porém sem uma forma precisa de avaliação.

Neste contexto, precisava aparecer alguém que fizesse a conversão da quantidade de um bem em outro, na hora da TROCA. Quem passou a fazer, inteligentemente, este papel foi a burguesia.

Suponhamos o seguinte exemplo. Um nobre encarrega um comerciante (burguês) de lhe conseguir trigo. Para isto, lhe dá 12 ovelhas para trocar. O comerciante lhe diz que a pele vale mais do que a carne, que não pode garantir se todas sobreviverão à viagem, e que portanto fará a troca pelas peles, e não pela pele e carne. O nobre concorda.

No mercado inglês, segundo levantamento de Adam Smith (A Riqueza das Nações), 12 peles de ovelhas compravam 94,5 Kg de trigo. Mas o burguês precisava garantir sua taxa de troca, pois tinha que sobreviver. Ele teria que pagar a viagem das ovelhas e o transporte do trigo na volta. Portanto, ele pode tirar 10 kg de trigo para si, além de ficar com a carne das ovelhas. Assim esta classe burguesa foi acumulando o seu capital.

A Mercadoria

Para o burguês, portanto, a sua riqueza era expressa pelo acúmulo de mercadorias que conseguia.

Neste momento entra o filósofo (exclusivamente isto1), com a sua teoria sobre Mercadoria.

Na visão de KM (Karl Marx, para simplificar o texto), a Mercadoria possuía dois valores:


O valor de uso não exprime nenhuma relação social de produção.

O Valor de Troca é a "relação quantitativa segundo a qual os valores de uso são permutáveis entre si". Como não havia ainda o dinheiro, havia a necessidade de estabelecer a relação entre os valores de uso das duas mercadorias que entravam em uma negociação específica.

Segundo KM:

"As mercadorias, tomadas em quantidades determinadas, equilibram-se, substituem-se na troca, avaliam-se como equivalentes, e representam assim, apesar da variedade das suas aparências, a mesma unidade."

"Os valores de uso são, de modo imediato, meios de subsistência".

Trabalho geral abstrato

No caso do trabalho artesanal, ou mesmo nas múltiplas funções dos empregados em uma fábrica, a valoração do trabalho poderia se tornar impossível, então KM define um trabalho abstrato, da seguinte forma:

"Mas como Valores de Troca representam trabalho igual não diferenciado, isto é, trabalho no qual se apaga a individualidade dos trabalhadores. O trabalho criador do Valor de Troca é, pois, o Trabalho Geral Abstrato".

Nest ponto temos que discordar veemente e logicamente de KM, pois cada trabalhador tem, na sua individualidade, mesmo naqueles tempos, e com mais razão nos tempos modernos, um conhecimento, habilidades, cursos de aperfeiçoamento, que influem na velocidade de seu trabalho, e na qualidade deste, fazendo com que a mercadoria seja um pouco melhor do que a média, caso não seja feita por máquina altamente padronizada.

"O tempo de trabalho é a existência viva do trabalho, não interessa a suaforma, o seu conteúdo, a sua individualidade; é o seu modo de existência viva na sua forma quantitativa, e simultaneamente a sua medida imanente".

Assim nasceu o Trabalho Medido pelo Cartão de Ponto.

Valor de Uso

O Tempo dispendido no trabalho para produzir uma mercadoria é a medida do seu Valor de Uso. Uma vez produzida a Mercadoria, temos o seu Valor de Troca. Este Valor de Troca é o "Tempo de Trabalho Coagulado" que foi necessári para produzir a Mercadoria.

Trabalho Simples

O Trabalho a que KM chamou de Trabalho Simples é um trabalho despido de qualidade. É o modo específico pelo qual o Trabalho cria o Valor de Troca, chamado por ele de Trabalho Social.

O Trabalho Social tem duas categorias: aquele que se realiza em Valor de Uso e aquelçe que se realiza em Valor de Troca. Este último era o que cabia à burguesia.

KM reduzia todas as mercadorias a uma só abordagem: ao tempo dispendido no trabalho para a produção da mesma. O indivíduo é como um órgão de trabalho.

A definição de KM para o Trabalho Simples é "trabalho para o qual qualquer indivíduo médio pode ser preparado".

Trabalho Complexo

O Trabalho Complexo se expressa como um múltiplo maior que 1 (uma) unidade em relação ao Trabalho Simples.

Trabalho Social

Expressa-se na igualdade do trabalho de indivíduos diferentes sob as mesmas condições.

Nesta definição KM está procurando a igualdade das pessoas na igualdade perante a produção de um mesmo valor de troca. Temos que levar em conta que, nos primeiros anos da Revolução Industrial, as pessoas trabalhavam até 18 horas por dia para atender a demanda da época, notadamente pelos produtos têxteis.

Esta simplificação da IGUALDADE SOCIAL é uma deturpação da definição da igualdade social dos indivíduos como pessoas separadas, com virtudes e dons peculiares à sua identidade no mundo.

KM usa "trabalho abstrato", "trabalho simples" e a própria sociedade industrial incipiente para definir um "indivíduo médio", através do Valor de Troca das mercadorias que ele produz, sob as condições controladas que ele estabelece teoricamente.

Ao invés de igualar as pessoas pela sua condição humana, ele procura a igualdade no fenômeno econômico da produção de mercadorias, tentanto também valorar esta igualdade no Valor de Troca de bens produzidos.

Esta é a perniciosidade da Teoria da Mercadoria de KM. Mas existe um outro aspecto ainda não percebido nesta pretensa Igualdade.

Ao definir Trabalho simples, e como consequência obter a Igualdade pela média dos indivíduos capazes de aprender a produzir satisfatoriamente uma Mercadoria, definindo, logo após, o Trabalho Complexo, ele abre o precedente óbvio de que

EXISTEM INDIVÍDUOS QUE EXECUTAM UM TRABALHO COMPLEXO, ACIMA DA MÉDIA DA MAIORIA, QUE EXECUTA O TRABALHO SIMPLES

Adivinhem quem são estes indivíduos ?

OS DIRIGENTES QUE ORGANIZARÃO O TRABALHO, DEFININDO QUANTO SERÁ PRODUZIDO DE CADA MERCADORIA2.

Conhecemos muito bem o resultado desta premissa dos regimes que pregam a ORGANIZAÇÂO DO TRABALHO. Nos regimes Socialistas e Comunistas. cabe ao governo e sua casta, a atribuição de um Trabalho Complexo, cuja medida do Valor de Uso é imponderável, chegando às raias do infinito.

Mas KM insiste que existe uma igualdade social:

"O trabalho de qualquer indivíduo, quando se manifesta em Valores de Troca, possui este caráter social de igualdade, e só se manifesta no valor de troca, quando relacionado com o trabalho de todos os outros indivíduos, e é considerado como trabalho igual".

Ou seja, dentro do sistema produtivo, de uma ou outra forma, perante os valores de troca praticados, o trabalho de todos os trabalhadores é igual.

Contexto destas definições de Karl Marx

KM se beneficiou dos eventos que se deram durante o início da Revolução Industrial na Inglaterra, pois sem a produção em larga escala, a diferença de Tempos de Trabalho para um trabalho artesanal apareceria nitidamente.

No trabalho artesanal a diferença de habilidades se mostraria nítida e indelevelmente, jogando completamente por terra os conceitos de Marx.

A seguir

No próximo artigo falaremos mais sobre op valor das marcadorias.

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1 - Karl Marx só pode ser visto como filósofo, pois nunca foi empregado de uma fábrica e nunca foi empresário. As contribuições de Engels, filho de empresário, não podem ser vistas como muito práticas, pois ele já estava "contaminado" pela empatia com os empregados da tecelagem do pai, até chegando a se casar com uma das ex-empregadas da fábrica do pai. Karl Marx foi apenas um jornalista, que mal conseguia o suficiente para sustentar a si mesmo, à esposa e aos seus filhos.
2 - Condição "sine qua non" de uma economia controlada pelo Estado (controle dos meios de produção).