segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Sobre homens e personalidades míticas

 

O homem, em nenhum tempo, é dono dos princípios e das causas dos eventos históricos. Seu período de existência físico é limitado num período que não excede a duração máxima estatística observada no tempo em que vive. Nestes anos 2020, a expectativa de vida é de 75 anos.

O tempo e o fato

O homem que chega em sua época só pode fazer deduções lógicas da existência sobre os homens da sua época. Os costumes, a língua, a política e a economia sofrem transformações inimagináveis. Qualquer dedução só procede se tiver uma base documental, e quando se referir a um tempo passado deve ser considerada como cada vez mais imprecisa, quanto mais longe estiver aquele tempo em questão.


Por exemplo, vamos pensar que temos que fazer uma dedução a respeito de uma situação social ocorrida há 50 anos atrás. Em seguida, consideremos também que estamos na faixa etária que vai de 50 a 60 anos. Nossa idade, à época do fato, estava entre 0 e 9 anos. Esta idade não possibilita análise “in tempu”, pois o mínimo para isto orça em 25 anos de idade, quando nosso cérebro “fecha”, ou seja, atingimos uma maturidade dedutiva mínima, com consciência social.


O que fazemos ? Buscamos pelo menos um intervalo de 10 anos (década) de eventos anteriores ao evento e 10 anos posteriores, documentação da época, pois esta tem o exato clima que proporcionou aquele desenrolar de fatos DA ÉPOCA. Este é um dos princípios da historiografia: procurar documentação o mais próximo da época em que um fato se deu.

Tempos longínquos

Mas o ser humano é um pesquisador e pretensioso. Quanto maior o intervalo de tempo entre a sua existência e um fato, tanto mais pretensioso ele será, ao tentar analisar o fato acontecido. Agora vamos exemplificar com um fato que ocorreu há 500 anos atrás. Este número 500 é 500/75, ou 6,67 vezes a expectativa de vida deste pesquisador que tenta “sentir” o fato como se naquela época tivesse vivido. Multiplique este fator por 10 (a nossa década), e vai descobrir que terá que dissecar 70 (aproximação por cima) anos anteriores ao fato e mais 70 posteriores (para se inteirar de causas e de consequências). E terá que procurar as evidências na documentação da época.

Tempos muito longínquos

Vamos lidar agora com fatos acontecidos há, por exemplo, 3000 anos atrás. Calcule o coeficiente, a exemplo do que fizemos anteriormente: 3000/75 = 40. O tempo abarcado em nossa pesquisa histórica será de 40x10 anos antes e 40x10 anos depois do fato. Vamos lidar com 800 anos de história, e teremos que achar os documentos da época, fazer mapeamentos complexos, analisando costumes e sua evolução, analisando alterações econômicas e talvez até mudanças de linguagens ou dialetos. Este não é um trabalho para amadores.


Veja em que ano vamos cair: 2020 – 3000 = 880 aC (antes de Cristo). Nesta época, Atenas e Esparta ainda existem como reinos. Israel está dividido em Reino de Judá e Reino de Israel. Os etruscos estão dominando a península itálica. Homero, o poeta cego, nascerá em 850 aC. Vive em Israel o profeta Elias. Portanto, são muitos fatos importantes acontecendo. Temos que pesquisar desde o ano 1280 aC até 480 aC. É uma tarefa árdua, e devemos nos precaver de dar opiniões apressadas e equivocadas sobre os fatos se desenrolando.



Se te pedirem para comentar sobre a vida dos gregos, nesta época, você terá que pesquisar o suficiente e fazer simulações mentais para se sentir um grego, e ai opinar sobre a vida desses. O mesmo para opinar sobre a vida dos cidadãos de Israel e Etruscos. Você deve pensar e se sentir como um deles, durante dias ou meses, para não passar vergonha ao falar sobre aquele período.


Os documentos da época, tendenciosos ou não, foram escritos na época, e cabe ao estudioso captar o humor, o entusiasmo ou o pessimismo dos narradores da época.

Documentação “errada”

Toda documentação de época contém não só conteúdo factual, mas o conteúdo emocional, a tônica vigente de elucidação de eventos. Portanto, não existe documentação errada. Vejamos o caso do grego Heródoto. Heródoto é tido como um historiador que, de certa forma, exagera nas características dos fatos a respeito dos povos vizinhos pois, como grego, acreditava que todos os povos vizinhos eram bárbaros. Então ele trata ironica e exageradamente os assuntos e fatos que se referem aos povos seus vizinhos, na época em que viveu.


E nós, sabendo disto, tendo constatado estes traços de discurso em seus textos, ficamos preparados para “separar o joio do trigo”. Então os textos de Heródoto se tornam úteis.

Revisionismo

Até época anterior a Internet, em que a fonte do conhecimento eram os livros, editados após revisão, os comentaristas eram poucos. E mesmo nesta época, alguns autores almejavam a fama e, para atingir seu objetivo, lançavam hipóteses do tipo “não foi bem assim”. E muitos atingiram seus objetivos, para depois de venderem muitos livros, serem desmentidos e envergonhados. Mas uma vez que tivessem ganho dinheiro suficiente, nada mais importava.


Hoje, com a Internet, a situação piorou muito. Fedelhos de 12 anos querem comentar sobre assuntos que absolutamente não dominam (estão 13 anos atrasados em relação à idade da razão), não querem estudar, e emitem opiniões cujo lugar mais apropriado para desaguar seria a rede de esgoto.


Com tantas fontes disponíveis nos trabalhos do meio acadêmico, construídas com orientação de professores, podemos até tabelar os fatos por fonte, com no mínimo 10 pontos de vista. Podemos analisar os autores, sua situação, trabalhos anteriores e medir sua credibilidade em relação aquele assunto em pauta.

Conflitos de Interesse

A pandemia destes anos 2020, do corona virus Covid-19, mostrou muito a tendenciosidade de certas opiniões. Tanto presidentes, quanto governadores tentaram fazer ciência, dando opiniões estapafúrdias e dignas de dó. Sem a pesquisa, sem o conhecimento, sem o cruzamento das informações corretas e sem o tempo adequado de testes, nada pode ser dito, em termos de ciência.


Para a historiografia, acontece coisa parecida, como dissemos. É preciso uma pesquisa de um tempo proporcional ao período analisado, a mentalização necessária para se sentir naquela época e muitas comparações, para dar uma opinião sobre um tempo passado.


Governadores e prefeitos incorreram no conflito de interesse, ao emitirem opiniões e diagnósticos que os beneficiassem.

Personalidades míticas

Ora, com o afastamento de certos fatos, para intervalos de tempo de milhares de anos, a obrigação do homem seria a de pesquisar quase a história universal inteira. O homem moderno não quer ter este trabalho. Houve gente que duvidasse da existência de Homero e tivesse sugerido que ele não escreveu a Ilíada sozinho (aliás, ele não escreveu e sim recitava a saga de memória). Moisés é mais uma vítima desta preguiça humana de buscar a linha dos fatos, pois o pretenso pesquisador teria que lidar com 3300 anos de história, aproximadamente. Esta pessoa teria que conhecer a história do Egito, as possibilidades de sobrevivência no deserto, a religião judaica, relações de equilíbrio na política egípcia e uma infinidade de variáveis impalpáveis.


Maomé é considerado pelos povos ocidentais como uma invenção dos muçulmanos, para criar uma raiz palpável para sua religião. O fato é que temos milhões de muçulmanos no mundo, e esta é uma das religiões que mais cresce nestes anos 2000.


Retrocedendo aos limites extremos, chegaríamos a Adão e Eva, cuja psicologia é algo inimaginável, a partir do ponto em que se trata de duas pessoas que não tiveram mãe, ou seja, um elemento de ternura em suas vidas, e tiveram o próprio Deus como Pai, severo e que não admitia erros. Então, diante de sua fraqueza e impossibilidade de entender a situação, o homem classifica aquele contexto e seus personagens como um mito. Uma serpente falante, diante do homem limitado, vira mito.


Mas houve gente que fez pior, e concebeu a serpente como uma invenção de Eva. Imaginem a inocente Eva, sem outras pessoas para lhe incutirem a malícia (só tínhamos Deus e Adão), ter a capacidade intelectual de inventar esta mentira.


E se Adão e Eva são mitos, nem eu e nem você estamos aqui lendo este texto, pois do terceiro ser humano em diante, nascemos sempre de um casal. Ou então estou louco.


E que prova documental temos destes “personagens míticos” ? De Homero temos seus romances notórios. De Maomé temos o Alcorão. De Moisés, Adão e Eva temos a Bíblia. Estes são os mitos mais reais de que se pode ter notícia.

Conclusão

O homem se apegou, com o seu orgulho, às provas materiais. Esta situação só piorou nos últimos tempos com o advento e proliferação dos vídeos do Youtube. O que não estiver registrado em vídeo é dado como duvidoso, e até inexistente.


O homem tem que desenvolver sua faculdade superior de razoabilidade e, se puder, se orientar por uma fé racional, baseada em possibilidade derivada de fontes documentais.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Desregulamentação financeira, Lavagem de dinheiro e Tráfico de drogas

Desregulamentação financeira

Enxugamento das regras financeiras sob o pretexto de promover a atividade comercial e a acumulação de capital.

Lavagem de dinheiro

Transformação do “dirty money” (dinheiro sujo) em “washed money” (dinheiro lavado), através de operações financeiras que parecem ter relação com a atividade comercial e/ou industrial, tendo como destino paraísos fiscais.

Tráfico de drogas

Atividade comercial surgida da necessidade dos povos andinos produzirem algo para minimizar os efeitos da altitude, que se presta também à sua subsistência.

Efeitos da desregulamentação financeira sobre o Sistema Financeiro

Nos anos 1970 até os anos 1990 foram tomadas, intencionalmente, medidas que tinham o rótulo de promotoras e facilitadoras da atividade comercial, mas que realmente tinham por intuito promover e facilitar o trânsito dos capitais ligados ao narcotráfico. Nesta época foi criado o Mercosul, criou-se a flexibilização do câmbio,

Em 2004, o Conselho Monetário Nacional tomou algumas medidas neste sentido:

3217 – A empresa pode quitar operações de crédito internacional diretamente com a instituição bancária. Antes da medida, era preciso fazer a remessa do dinheiro convertido à moeda do país destino, diretamente ao fornecedor, no dia do pagamento.

3218 – Garante a emissão de debêntures por empresas brasileiras intermediada pelo BID e Banco Mundial. Antes a emissão era garantida apenas pelo BACEN (Banco Central), portanto as empresas brasileiras não faziam esta operação.

Globalização – aumenta a quantidade de produtos comercializados no mercado internacional, bem como a quantidade de operações financeiras resultantes deste aumento. Para conseguir a efetivação da globalização, o câmbio foi flexibilizado, ou seja, medidas foram tomadas para facilitar o comércio internacional, importação e exportação.



Em que consiste o tráfico de drogas

O tráfico de drogas é uma atividade ilícita, já que se refere a um produto ou produtos não enumerados nas tabelas internacionais de comércio, não possui empresas registradas que os colham ou beneficiem e não tem cotação nas Bolsas de Valores Nacionais ou Internacionais.

E o que o produtor ou comerciante deste tipo de mercadoria vai fazer para poder usufruir do dinheiro e enriquecer, se dinheiro de atividade ilegal também é ilegal ?

O tráfico de drogas exige um processo posterior ao de ganho do dinheiro chamado de Lavagem de Dinheiro. Portanto, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro são duas etapas de um processo.
Mas o que chamamos de tráfico de drogas, inserido no conceito de Globalização, que foi um dos fatores para a desregulamentação financeira, se transformou em Tráfico Internacional de Drogas, já que o mercado consumidor dos países produtores, notadamente pobres, não proporcionaria o lucro esperado pelos interessados nesta atividade.

Já dissemos que os insumos para as drogas, folhas e flores da maconha e as folhas de coca, são típicos da América do Sul. As maiores plantações estão nas florestas do Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru. E estes países são pobres, e encontraram nestes produtos um meio de subsistência.

O tráfico na América do Sul tem mais papel produtor do que consumidor. Os grandes mercados consumidores estão na Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão e China.

Como é feita a lavagem de dinheiro do tráfico ?

Uma das coisas a se considerar em relação ao tráfico de drogas globalizado é o volume de dinheiro gerado. Se o produtor ou atravessador deste produto declarar seus ganhos integralmente, será certamente preso, pois não terá negócios compatíveis com estes ganhos.

Então é preciso “fingir” que tem negócios em volume compatível com o dinheiro declarado. Sendo o volume de dinheiro muito grande, o dono deste negócio pode criar empresas de fachada, inclusive comprando edificações, equipamentos, móveis e contratando empregados. Afinal, o dinheiro é quase interminável, que é possível criar estes cenários que enganam quem perguntar ao dono do negócio se aquilo que ele explora daria o dinheiro que ele ganha.

Vamos supor uma lavagem com uma rede de supermercados. O Traficante vai gastar um dinheiro comprando os imóveis para a rede, contratar empregados, comprar estoque e tudo o mais. No fim do mês, não tendo vendido o suficiente para provar o valor do faturamento que vai justificar seus ganhos com o tráfico, ele pode, simplesmente, jogar o restante do estoque que corresponda a 90% do que comprou (para não dar muito na cara, deve sobrar um pouco dos produtos nas prateleiras) no lixo. Compreenderam ?

Mas existem outras formas de se lavar o dinheiro, além do que nem uma rede de supermercados costuma bastar para lavar tanto dinheiro. Também o início das atividades deste “empresário” devem parecer normais, ou seja, no início de um negócio, nenhum empresário tem um lucro grande. O traficante deve fazer o possível para que os ganhos sejam compatíveis com a realidade.


Uma alternativa é simular operações de exportação e se beneficiar das medidas 3217 e 3218 do Conselho Monetário Nacional. E quando o relacionamento se dá com os bancos como intermediários, a coisa melhora bastante. Os gerentes e o dono do banco sabem que existem traficantes. Basta fazer a operação de forma a não chamar a atenção de órgãos reguladores e de inteligência financeira. Um dos meios é o fracionamento dos pagamentos e remessas.

Conclusão

Como dissemos, Lavagem de Dinheiro e Tráfico de Drogas andam “de mãos dadas”. Mas sem os benefícios de medidas que facilitem o trânsito do dinheiro gerado, fica impossível esconder os ganhos atrás de uma “cortina de honestidade”.

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Bibliografia:

A Crise Financeira Internacional, seus efeitos na América Latina e a integração regional como moderador dos efeitos negativos na região – Alexandre César Cunha Leite e Maylle Alves Benício
Estado, Narcotráfico e Sistema Financeiro: Aproximações – Ney Jansen Ferreira Neto
O Sistema Financeiro e a Lavagem de Dinheiro – Edna Costa Sousa

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Entendendo o Marxismo - Contexto Histórico-Econômico

Para discutir este aspecto, tomemos o discurso genuíno de Karl Marx tecendo considerações históricas sobre a Análise da Mercadoria:

"A redução analítica da mercadoria a trabalho deve levar em conta duas afirmações:


  • Redução do valor de uso a Trabalho Concreto, ou seja, atividade produtiva para um fim determinado;
  • Redução do Valor de Troca a Tempo de Trabalho ou Trabalho Social igual;


é o resultado de intensa pesquisa efetuada por mais de um século e meio pela economia política clássica, pelos seguintes filósofos:


  • William Petty na Inglaterra;
  • Boisguilbert na França;
  • David Ricardo na Inglaterra;
  • Sismondi na França.


Vamos conhecer um pouco sobre cada um.

William Petty

Possui grandes vantagens curriculares sobre Karl Marx:

  • Economista;
  • Cientista;
  • Filósofo;

Além disto, estudou Anatomia, relacionou-se com Descartes e foi secretário particular de Thomas Hobbes. Também estudou medicina. Prestou serviço no exército de Oliver Cromwell.

A partir de 1666, dedicou-se ao estudo de Cioências Sociais.


  • Escreveu 2 importantes textos:
  • Tratado de Impostos e Contribuições;
  • Aritmética Política;

Boisguilebert - Pierre Le Pesant

Recebeu educação clássica em Rouen, na França. Entrou na magistratura e se tornou Juiz. Foi presidente da província de Rouen, seu local de nascimento.

Estudou nas condições locais de sua província, e se preocupou sobremaneira com a taxação dos pobres.

Ele resumiu a situação da França, na sua época, da seguinte forma:

"A raça humana, hoje, está completamente dividida em duas classes, uma que não faz nada mas goza de todos os prazeres. Outra que trabalha de dia até a noite, conseguindo apenas adquirir suas mínimas necessidades."

David Ricardo

Estabeleceu os pressupostos sobre os quais Karl Marx construiu seus pensamentos (vejam que não dissemos teorias e nem filosofia):

  • Livre mobilidade da mão de obra;
  • O Valor das mercadorias tem por base a quantidade (medida em tempo) de trabalho dispendido na sua produção. Portanto, o pensamento de Karl Marx não é novo;
  • Os países trocariam Mercadorias as quais fossem capazes de produzir com o menor custo possível, em termos de quantidade de Trabalho.

David Ricardo é considerado o sucessor do filósofo e economista prático Adam Smith.

Ele era de descendência holandesa, de judeus sefaraditas. Começou a trabalhar na Bolsa de Valores com 14 anos, adquirindo uma visão profunda da essência das mercadorias e da estimativa de valores dessas.

Leu "A Riqueza das Nações" de Adam Smith, literatura de caráter lapidar da Economia, em 1799 (com 27 anos de idade).

Foi fortemente influenciado pela Revolução Francesa. Como resultado, tornou-se um defensor do Liberalismo. Escreveu um dos tratados mais importantes da Economia Clássica: "Os princípios", publicado em 1817.

Já no ano de 1815 (43 anos de idade) era considerado o mais importante economista da Grã-Bretanha.

Jean de Sismondi

Mais um filósofo economista do rol dos influenciados pelo grande Adam Smith. No entanto, sua admiração por esse se dissiparia em 1819, quando publica seu trabalho "Novos princípios da Economia Política", onde levanta a necessidade de uma Redistribuição da Riqueza. Segundo ele, o Liberalismo aumenta a miséria dos trabalhadores, porque:


  • a concorrência exerce uma pressão no sentido da redução dos custos de produção e portanto sobre os salários;
  • o ritmo elevado do progresso técnico faz com que os antigos resistam na base da redução de preço e, portanto, dos salários.


Duas conclusões que não resistiram à história social de que temos notícia e do que observamos em nossa vida cotidiana. A concorrência é o fator mais salutar do universo econômico. Ela abaixa os preços e fomenta o emprego. Já o salário obedece a um balanço de muitos fatores, e a concorrência e o progresso técnico só são alguns deles.

Diferentemente do informado por Karl Marx, Sismondi era suiço, e não francês. Talvez por se comunicar com ele em francês, achasse que ele o era. Karl Marx também tinha o péssimo hábito de não confessar a propriedade das ideias que tomava por base para o seus trabalhos. Não citava os créditos de seus inspiradores.

Sismondi estava convencido de que seus estudos constitucionais, que mostravam em essência que a Constituição e as Leis são as bases da Liberdade e determinam o caráter de um povo e a cidadania, tiveram um impacto real nas ideias políticas europeias.

A partir de 1796, começa o seu trabalho "Pesquisa nas Constituições das nações livres" publicado na década de 1830 que se constituiu na base do projeto de Constituição Liberal que Sismondi ajudou Benjamin Constant a rascunhar em 1815.

Ao estudar as Constituições das Repúblicas Italianas, ele fatalmente estudou a história dessas, e isto o levou a escrever mais um de seus trabalhos "História das Repúblicas Italianas na Idade Média", em 16 volumes.

Nestas repúblicas livres e autônomas, Sismondi achou as origens do Liberalismo. Ele foi o economista que chegou em primeiro lugarà fama internacional em 1803 com "Princípios da Eco0nomia Política aplicados à Legislação do Comércio".

Este último trabalho que mencionamos é a primeira exposição clara da doutrina de Adam Smith em uma língua que não fosse o inglês; além disso, o trabalho foi encarado como uma oposição ao Sistema Napoleônico em política e economia.

Sismondi foi aclamado como fiel intérprete de Adam Smith.

No entanto, observando o panorama da Revolução Industrial, com longas jornadas de trabalho, uso de mão de obra infantil e a criminalidade urbana, ele deixou de ser um adepto do "laissez-faire" (mote do liberalismo: deixe fazer, deixe passar, que o mundo anda por ele mesmo), escrevendo o seu outro trabalho "Novos princípios da Economia Política".

E é este último trabalho que inspirou Karl Marx e também Lenin, que consideraram como a mais importante contribuição para a Economia Política.

Conclusão

Vemos que as "crônicas" sócio-econômicas de Karl Marx tem bases que podem incluí-lo na máxima "fiz meu trabalho me apoiando em ombro de gigantes", porém ele não se dignou a citar estes "gigantes" no decorrer de seus escritos, relegando-os a meros referenciais, sem lhes exaltar as ideias, de acordo com a correta técnica de citação.




sábado, 1 de dezembro de 2018

Entendendo o Marxismo - Valor de Troca e Tempo de Trabalho

O Valor de Uso exprime uma relação causal. O Trigo e o Milho se prestam à finalidade de alimentação. Já o Linho e o Algodão servem como matéria prima para a indústria de tecelagem para serem transformados em roupas, roupas de cama e agasalhos, cujo valor prático é inestimável.

A Troca

Mas suponhamops que, no mercado, estamos decididos a trocar algumas sacas de Trigo por alguns rolos de Linho. Não estamos fazendo uma troca com o fim de permutar nossa alimentação. Não tencionamos comer Linho. Provavelmente, compramos Trigo a mais para a nossa alimentação, e sendo capazes de produzir peças de vestuário, trocamos o excedente do Trigo por matéria prima para roupas.

O que aconteceu com o Valor estritamente de Uso alimentar que se poderia esperar do Trigo ?

A comida pode se transformar em vestuário (sem tratamento químico, obviamente) ?

Vamos apreciar um outro caso. Seja a própria máquina utilizada na fabricação de mercadorias, como o tear mecânico. Seria um erro afirmar que o seu Valor de Troca não é determinado pelo tempo de mão de obra que ela substitui, e sim o tempo utilizado para a sua fabricação.Para termos certeza disto, basta pensar nesta máquina como sendo fabricada por outra. Se ela for fabricada por outra máquina, o tempo de fabricação será drasticamente diminuído, bem como o seu Valor de compra, afinal o tempo de fabricação foi reduzido. Isto condiz com a nossa definição basilar de Valor por Tempo de Fabricação.

Parâmetros que ditam a Variação do Valor de Troca.

Se não existisse a melhoria dos diversos processos de fabricação, o Valor de Troca sempre seria constante. Igualmente, se não existisse uma menor ou maior disponibilidade de matérias primas, variações de condições climáticas e outros fatores, os valores de troca seriam eternamente constantes.

Portanto, uma quantidade de trabalho produzirá mais ou menos mercadorias, de acordo com as várias condições que constam do cenário de produção.

Hoje, a disponibilidade de ouro, por exemplo, é bem menor nos veios já explorados do que há anos atrás. Nos idos tempos da colonização, ele aflorava na forma de ouro de aluvião, e o percentual de ouro por tonelada de rocha extraída era maior. Este é o caso clássico dos metais preciosos.

Em outras palavras, a escassez de uma determinada riqueza, seja mineral ou extrativista, determina a majoração de seu Valor de Troca. Esta é uma das exprtessões da Lei da Oferta e da Procura.

O Dinheiro como representante Universal do Valor de Troca

A invenção da moeda, ou de outro modo, do dinheiro trouxe às trocas um verdadeiro intermediário QUE NÃO TEM CARACTERÍSTICAS DE MERCADORIA UTILITÁRIA OU OSTENTATIVA.

  • O Dinheiro não tem uso como uma Mercadoria, da qual você precisa, para um determinado USO;
  • O Dinheiro dispensa longas listas de conversão de Valores de Troca entre várias Mercadorias;
  • O Dinheiro não precisa de um local de armazenamento tão grande quanto o volume total de mercadorias que ele poderia comprar;
  • O Dinheiro pode ser representado por uma simples anotação de crédito ou de débito em uma folha de papel;

Com o advento do cartão de débito e de crédito, avançamos mais um nível na escala de significado da Moeda. A Troca de uma Mercadoria por Dinheiro foi substituída pela simples ANOTAÇÃO DE TRANSAÇÂO. Neste tipo de negócio, só é feito um registro na Conta Corrente do comprador e do vendedor, sem o uso de qualquer volume de Moeda física.

O valor das transações é simplesmente subtraído do montante da conta corrente ndo comprador, ao mesmo tempo em que é somado ao montante da conta corrente do vendedor.

No caso da compra a crédito, é criado um grupo de transações de igual valor, igual à fração correspondente ao número de prestações combinado na compra. Em três vezes, por exemplo, são criadas três transações com dia marcado para serem concretizadas, cada uma com o valor de um terço do valor da venda.


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Relatório da Distribuição de Renda no Brasil

A distribuição de Renda no Brasil é boa; é justa; tem melhorado ?

Se você tem estas dúvidas, deve ler este post.

Ministério da Fazenda

Em vista dos constantes achaques sobre os contribuintes e da busca por mais transparência, um dos lados resolveu reagir. O Ministério da Fazenda resolveu consolidar os produtos das Declarações de Renda dos Contribuintes junto a outras informações de Pesquisas Governamentais em um só relatório resumo, mais claro para os públicos técnicos e leigos, porém conservando a substância de análise dos dados em gráficos. Deste trabalho surgiu o RELATÓRIO DA DISTRIBUIÇÃO PESSOAL DA RENDA E DA RIQUEZA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA.

As fontes para geração deste relatório são:


  • PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicíçlios;
  • POF - Pesquisa de Orçamentos Familiares;
  • IRPF - Imposto de Renda da Pessoa Física;

O Brasil ocupava em 2013 a 28ª posição em relação ao GINI (sobre nome do matemático Italiano Conrado Gini, índice do Banco Mundial para estimativa da Distribuição de Renda), com o coeficiente de 0,59 (quanto maior, maior a distribuição da Renda.

Resultados

Os dados do Relatório de Maio de 2016 apresentam parte da conclusão em sua página 14:

"Os dados disponíveis atualmente indicam haver forte concentração de renda e da riqueza nos extratos mais altos dos contribuintes brasileiros, apesar de uma leve queda na partiucipação desse extrato da população ao longo dos anos".

"A distribuição da riqueza também apresenta elevado grau de concentração . Apenas 8,4 % da população se apropria de 59,4 % da riqueza, no Brasil".
Fatores que levaram a este Resultado

Relatório completo em: (Google: "RELATÓRIO DA DISTRIBUIÇÃO PESSOAL DA RENDA E DA RIQUEZA pdf" )

http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/transparencia-fiscal/distribuicao-renda-e-riqueza/relatorio-distribuicao-da-renda-2016-05-09.pdf/view

Fatores que conduziram a este resultado


  • Lucros bancários exorbitantes;
  • Juros altos até o ano 2016;
  • Empréstimos do BNDES em condições privilegiadas a grandes grupos econômicos;
  • Altos impostos na carga da classe média (a alta produz, a baixa usufrui deste aporte em programas sociais);
  • A mão de obra desqualificada não consegue gerar renda suficiente para compensar o que é gasto para mantê-la por intermédio de benefícios, num ciclo vicioso que a impede de se qualificar e consequentemente aumentar a sua renda;
  • Expansão monetária criada pelo Estado. É o crédito oferecido à razão de 9 para 1. Ou seja, o crédito exagerado contraditoriamente gera a queda de renda global da população;

Comentário

A conclusão está no título anterior. Nosso comentário é que o crédito deve ser oferecido ao extrato populacional que tem menos riqueza, e não para quem está no topo da renda. "Dinheiro chama dinheiro". Para quem já tem muito, qualquer crédito provoca ganhos exorbitantes. Qualquer 0,1 % para os grandes grupos econômicos é um ganho extraordinário até pela fórmula de juros simples:

J = Cit/100

Imagine para a de juros sobre juros.


domingo, 11 de novembro de 2018

Trabalho criador de Valor de Troca e conteúdo social

Em "O Capital", o filósofo Karl Marx diz:

"O trabalho criador de Valor de Troca caracteriza-se, finalmente, pelo fato de as Relações Sociais entre as pessoas se apresentarem, por assim dizer, como uma 'Relação Social entre as coisas'".

Parece uma metáfora exagerada. Não vamos julgar agora. Vamos ver se na continuação da sua assertiva ele consegue dar sentido ao que propõe:

"É comparando um Valor de Uso com um outro, na sua qualidade de Valor de Troca, que o trabalho de diversas pessoas é comparado no seu aspecto de trabalho Igual e Geral".

Vejamos se a sua última conclusão, prosseguindo no seu raciocínio, é correta:

"Se é pois verdade dizer que o Valor de Troca é uma relação entre as pessoas, é necessário acrescentar uma relação que se esconde sob a aparência das coisas".

Análise

Vamos analisar, nos dias de hoje, se isto procede:

Suponhamos dois desconhecidos, e para tornar o modelo mais nítido, dois desconhecidos de classes sociais distantes. O Primeiro deseja trocar algo que tem, que não usa mais, por uma moto de 150 cilindradas. Ele vam a conhecer uma Segunda pessoa, que possui esta moto, e começa a combinar a troca.

A Segunda pessoa deseja um XBox One, e apesar de seu alto poder aquisitivo, não quer comprar um novo. O Primeiro tem este equipamento, e não o usa mais. Na estimativa dos valores, evidentemente depreciados, pois o XBox não é novo, assim como a moto não é nova. Os anos de fabricação não são os mesmos tanto da moto quanto do XBox One.

Mas mesmo sendo ambos usados, a Segunda pessoa argumenta que o XBox One não cobre o Valor de Troca da moto, respeitadas as condições de uso. Esta Segunda pessoa pergunta se o Primeiro não tem outro equipamento eletrônico que não use mais. O Primeiro tem um som muito bom e que não usa mais. A Troca chega a um acordo.

Para a Segunda pessoa, a moto não tem mais nenhum valor de uso. Está encostada, e provavelmente vai precisar de uma revisão. Para o Primeiro, tanto o XBox quanto o som são estorvos, que não usa mais, e que deixados sem uso podem se estragar.

A Troca

Como dissemos, a troca é efetuada. No nível de Troca, não existe Valor Social nenhum. Não existe conhecimento do Valor de Uso inicial imediatamente após a conclusão da fabricação da Mercadoria. Mesmo que fosse lembrado, as mercadorias já são antigas, usadas, e não tem mais seu valor original.

Mercadoria não tem memória, não tem história. Se houvesse Valor Social envolvido, a Primeira Pessoa envolvida na troca sempre utilizaria o som comprado. A compra seria uma espécie de "Compromisso de Uso". Acontece que isto é normal na sociedade. As pessoas param de usar as coisas, ou compram coisas novas, mais modernas, mais eficientes, menores, ou mesmo combinadas com outras funções. E fazem isto mesmo que a Mercadoria tenha sido adquirida por alto preço.

Se fosse verdadeiro o argumento do Valor Social, as pessoas não se desfariam de seus bens adquiridos até por valores inferiores aos da Compra. Mercadoria não tem história, como o tem os homens.

O Valor de Troca, segundo KM, pode se reduzir com o Tempo, à medida em que a Indústria consegue produzir em maior quantidade e até mais rápido, quando se aborda o problema por unidade.

E mesmo a mercadoria nova, sendo produzida de forma mais rápida, é mais barata. A antiga foi produzida em condições anteriores, mais lentamente, e portanto seria mais cara. Mas o Mercado leva em conta o uso que se faz, e não a História da Mercadoria. Exceção é feita no mercado de antiguidades e só. E ainda assim, a antiguidade ainda tem o agravante de ser "rara", ou seja, a quantidade disponível no presente deve ser pouca ou bem pouca.

Portanto, o tal "Valor Social" só se dá nos casos onde a "história" do Valor de Uso é importante.

O termo SOCIAL, na teoria de KM, é puramente um fator de despertamento do raciocínio filosófico necessário para discutir e aperfeiçoar a Economia, elevada à categoria de Ciência Social.

Toda crítica é positiva para o esclarecimento e para o despertar de novos detalhes.

Esclarecimentos quanto ao caráter Social


  • O Valor Social não está na Mercadoria, como valor "coagulado", mas no Trabalho do operário, em seu meio social. E como ?
  • O Trabalho, seja qual for a remuneração do trabalhador, é fator de Integração Social.
  • A remuneração do Trabalho deve ser proporcional ao tempo do trabalho e à relevância da função desempenhada para a evolução social.

Portanto, quanto mais antigos os empregados, melhor deve ser a sua remuneração. E quanto maior ma responsabilidade, também maior deve ser a remuneração do trabalhador.

Deve-se ter muito cuidado com os termos "Trabalho Simples", "Trabalho Igual" e "Valor Social" de Karl Marx, pois abre precedentes para que os capitalistas tratem todos os trabalhadores como uma massa de Pessoas Iguais, sob a justificativa de que o Trabalho é Social, e não Individual.

Conclusão

O trabalho transfere este "Conteúdo Social" da Mercadoria para o Trabalhador. Este deve ser reconhecido individualmente, e não coletivamente, pois "embaça" a visão do trabalhador.

 

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Entendendo o Marxismo - O Exemplo de Valor

Diz Marx, em sua obra:

"Assim como uma Libra de Ferro e uma Libra de Ouro representam a mesma massa, apesar da diferença de suas propriedades físicas e químicas, assim os Valores de Uso de duas Mercadorias, CONTENDO IGUAL TEMPO DE TRABALHO, representam o mesmo Valor de Troca".

E segue, em sua lógica:

"O Valor de Troca aparece, portanto, como uma FORMA NATURAL SOCIALMENTE DETERMINADA DOS VALORES DE USO, forma determinada esta que lhes é devolvida enquanto objetos que são, e graças à qual, no processo de TROCA, eles se substituem um ao outro em relações quantitativas determinadas, e formam equivalentes, do mesmo modo que os corpos químicos simples se combinam em certas proporções, formando equivalentes químicos".

Karl Marx, com este último argumento, quer inserir as Trocas de Mercadorias no ritual de nossos rituais Sociais. A Troca, naqueles tempos de Marx, ainda prevalecia, ao invés da compra através da moeda. Então ele interpretava e inseria as trocas de mercadorias no contexto social, como rito social.

Hoje, já substituímos esta Troca por algo denominado como Compra e Venda, e segregamos estas permutas para o campo da Economia. Lembre-se, o trabalho era quase toda a vida das pessoas, pois elas laboravam por 18 horas diárias, a ponto de caírem no sono, durante o trabalho. Não existe mais Troca, e não existe caráter social no fenômeno da Compra e nem no da Venda.

Também não faz mais parte do fenômeno de classes o grande acesso às mercadorias, que os burgueses tiunham, em detrimento da plebe, pois hoje O CRÉDITO AO CONSUMIDOR EM GERAL ESTÁ BEM FACILITADO. Não existe mais luta de classes para o direito ao consumo.

Relação Social de Produção

E Marx continua:

"Somente o hábito da vida cotidiana faz considerar como banal e como evidente o fato de uma Relação Social de Produção tomar a forma de um objeto, dando às relações entre as pessoas, no seu trabalho, o aspecto de uma relação que se estabelece entre as coisas e as pessoas".

O trabalho intenso nas fábricas, naqueles tempos de Revoiução Industrial, com os operários passando longas horas laborando, podia enganar a mente dos desavisados e dos trabalhadores, a ponto de convencê-los de que a fábrica era quase como a CASA daquelas pessoas, ou um lugar de CULTO, ou seja, Culto ao Trabalho. A busca do sustento era o único ritual daquela massa de Trabalhadores. Os produtos continham aritmeticamente um Tempo dos Operários, e conceitualmente um Conteúdo Social, como queria Marx.

Mas isto é um engano. Conteúdo Social não pode ser vendido. Se assim fosse, a Mercadoria também pertenceria ao "agrupamento social" dos trabalhadores, e não poderia ser vendida sem autorização deles. Mas isto não procede. A Mercadoria é do proprietário da fábrica, que dá um pagamento aos operários, pela VENDA da mão de obra destes.

Não existe romantismo e nem fenômeno social na produção. O Trabalho é, antes de tudo, um Direito Social de inserção na Sociedade, e existem trabalhos que não produzem Mercadorias palpáveis.

A Libra de Ferro e a Libra de Ouro

O exemplo de KM se mostra um pouco infeliz, ao comparar apenas o Tempo de Produção entre uma mercadoria feita de ouro e outra confeccionada de ferro. As pessoas dão especial valor ao brilho das mercadorias confeccionadas com o metal Ouro.

O Ferro possui outra associação na mente humana, que lhe atribui a dureza necessária para a construção de ferramentas e a ductibilidade apropriada para a moldagem de peças complexas como engrenagens, encaixes, conexões, articulações, etc.

Um possui Valor de Uso decorativo, ostensivo, enquanto o outro tem Valor de Uso utilitário, estando principalmente presente na estrutura de todas as construções bem feitas. Existe muito mais coisa envolvida na determinação dos Valores de Uso e, portanto, nos Valores de Troca, que a vã filosofia de KM poderia supor naqueles tempos sombrios.

O profissional especializado

A competência técnica do Ourives (profissional que mexe com o ouro) faz com que a avaliação de VALOR ultrapasse o Tempo dispendido pelo trabalhador, tão somente.

A abordagem de KM, percebe-se, é mais a de um escritor e jornalista, sua profissão, do que a de um engenheiro de produção, capaz de analisar parâmetros técnicos, até de segurança, no caso do ferro. Quem já viu o trabalho em uma siderurgia sabe que a manipulação do Ferro fundido é bem mais perigosa do que a do Ouro fundido. O Ouro é bem mais fácil de moldar. Já o aspecto de extração do Ouro envolve uma enorme dificuldade, a começar pela sua raridade.

Explorando mais contradições no modelo de Valor da Mercadoria

Suponhamos dois grupos de operários que fabricam um mesmo modelo de cadeira, utilizando a mesma matéria prima e as mesmas ferramentas, no mesmo ambiente de uma fábrica.

O primeiro grupo demora 30 minutos para o processo, e o segundo 50 minutos. Na fabricação é usada a serra mecanizada e o torno mecanizado de madeira. O material, o acabamento, os encaixes, os ângulos e os cortes de madeira são os mesmos para ambas as equipes.

Pelos parâmetros de KM, a cadeira fabricada em 50 minutos, pela segunda equipe, teria que ser mais cara, pois utilizou mais tempo de produção. Acrescentemos que este segundo grupo não fez pausas em relação ao primeiro, apenas é mesmo mais lento.

Então, como ficamos em relação aos postulados de KM ?

Estaríamos premiando os mais lentos, pois utilizando mais tempo sua mercadoria teria que ter mais valor ? Sendo a cadeira produzida, no mesmo local, com o mesmo material, poderia ser mais cara ?

Em termos de Mercado, a segunda equipe, a mais lenta, perderia a sua chance de vender seu produto, em função de algo que será tratado mais à frente: a CONCORRÊNCIA.

Mas a premissa de igualdade da mercadoria fica comprometida, principalmente se o segundo grupo garantir um mercado fiel entre pessoas que preferem mercadorias fabricadas com mais lentidão, mesmo que isto não garanta mais qualidade, como forma de ostentação de uma Marca. Conhecendo marketing, sabemos que muitas fábricas produzem duas linhas do mesmo produto, colocando naqueles com mais qualidade uma outra marca. Mas a fábrica é a mesma.

O mesmo fazem certos restaurantes, que servem a comida originária da mesma cozinha, para um público seleto na sua sede principal, e as porções mal cozidas e com aparência comprometida em um local mais simples, para um público não tão seleto quanto o primeiro.

Algumas razões para a Interpretação de Karl Marx

As interpretações imprecisas de Karl Marx tem origem no contexto de sua época, o fato de nunca ter vivido como participante efetivo das verdades econômicas dos operários, faltando-lhe, portanto, elementos para avaliar os fatores humanos e técnicos envolvidos na avaliação correta do Valor da Mercadoria.